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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Contradição - por Alba Vieira

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Calor insuportável. Sol a pino. Eu imprensada entre um caminhão e um ônibus de turismo. A música alta no carro. Os vidros totalmente fechados. Nenhum ar, tudo me oprime, principalmente a sensação da inutilidade de viver nesta cidade horrorosa, agressiva, doida, que cria tensão, que dá medo, que é corrupta e nojenta. Sustos, indignações, inferno escaldante todos os dias, antes, durante e depois do trabalho. Carros enguiçados, rostos contraídos, ônibus apinhados de passageiros sem opção, sem destino.
Mas, ao olhar para o lado, encontro o rosto que sorri de tudo isso e compreendo seu sentimento de estar acima de todas estas coisas que fazem parte do caos; de saber que, quando quiser, pode estar num lugar calmo, fresco, com olhares doces e mãos que tocam profundamente.
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Poesia - por Alba Vieira

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Como é difícil necessitar da poesia, do sonho, do belo, do toque sensível e mágico, do olhar… e ter nada disso. Ao contrário, ser atropelada pela dura realidade que não olha, que é cruel dentro das suas expectativas, que impõe e dá um banho de água fria na nossa emoção. Há momentos em que sou só sensibilidade, que me desmancho por dentro, que preciso de alguém que me acolha, que me coloque num pires, que me dê limites e que este pires seja de porcelana com florzinhas pintadas à mão, que me remetam ao chá, à música, aos encontros de amor ou amizade, à vida interior plena e bela.
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Roubada - por Alba Vieira

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Roubada. Assim me sinto hoje e tenho estado desta forma na maior parte das vezes. Roubada de mim mesma, saqueada na minha energia, na minha paciência, na minha capacidade de amar. Eu preciso de mim: tenho que ouvir meus gritos abafados, meu choro contido que parece que vai explodir meu peito. Não consigo me dedicar a mim, eu que conheço agora tanto mais sobre minhas necessidades. Por que é que tenho que ignorar meus pedidos, já quase súplicas, adiar meu desejo, me tratar como se dura eu fosse quando extravaso em sensibilidade? Eu que não sou seca, que broto umidade de todos os poros, eu que anseio me expressar com sentimentos, eu que estou frágil e de tão vulnerável me derreto e perco os limites de mim, tonteio e morro. Morro, sim, a cada dia, morro de asfixia crônica, por não poder respirar o que sou. E eu sou tanto e gosto tanto do que sou, que só a morte poderá me impedir. Eu, ainda lagarta, presa, gosmenta por estar ligada a um casulo que me aprisiona, já sinto em mim a leveza, a beleza, a possibilidade, a transmutação em borboleta que sou.
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Consciência - por Alba Vieira

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Venho de um lugar de águas turvas que me impediam de ver adiante. Nadei exaustivamente, buscando enxergar as cores, sentindo o peso do desconhecido que me assusta e transforma em ser frágil conduzido pela correnteza formada pelos que se acercam de mim e conseguem me levar para onde, às vezes, não desejo nem imagino ser possível. Mas a escuridão se foi e agora, resgatada por mim e pela claridade desta manhã de compreensão profunda, já consigo ensaiar movimentos ondulantes em águas azuis de ser feliz outra vez.
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