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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tô Tentando - por Fatinha

Querido Brógui:

Procuro sempre me inserir dentro do grupo, ainda que negue veementemente essa minha necessidade de aceitação. Sempre mantenho a maior pose de quem-quiser-que-me-aceite-do-jeito-que-sou. Maior caô. Tenho em mim tatuada ainda a lembrança da adolescente que fui, meio gordota, cabelinho mau-com-Deus, tímida e nada, nem um tiquinho de nada, popular.
Por conta desse trauma de adolescente, vem o esforço de ser mais ou menos como todo mundo. Seguir as modas, não soltar nenhuma pérola politicamente incorreta, misturar-me à população local, seja lá qual for a população local.
No entanto, de vez em quando não dá. Vez por outra recebo uns olhares fulminantes, daqueles que me fazem sentir qual o mosquitinho do cocô do cavalo do bandido. Pequeninha, ridícula, uma coisinha à toa.
Um desses momentos é quando confesso humildemente que não tenho Orkut. NÃO TEM ORKUT? Não, digo eu, me desculpando por ser tão insignificante. Tenho meus motivos para não participar do que todo mundo participa, mas todo mundo acha que todo mundo tem que fazer o que todo mundo faz.
Outros momentos mosquitinho são quando confesso que não sei nadar e que não tenho passaporte. COMO ASSIM? Desculpe, não posso viajar de barco para fora do país. Mas, embora não saiba voar, posso viajar de avião, desde que não ultrapasse a fronteira.
Também não bebo e nunca fumei maconha. COMO? Tudo bem eu sou uma chata careta. Em compensação, posso levar uma dura de qualquer PM na madrugada. Tá bem. Essa opção não é mais saudável que as drogas.
VOCÊ NÃO FUROU A FILA E AINDA DEVOLVEU O TROCO QUE A MOÇA DEU ERRADO? Desculpe, “mas não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver e não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal”.
NÃO TEM CÂMERA DIGITAL? Desculpe, não tinha nem daquela de filme…
OK, então eu confesso: sou uma marginal, mas tô tentando deixar de sê-lo. Comprei um pen drive essa semana, meu celular tem câmera que eu juro que ainda vou aprender como funciona, falo palavrão e como fritura.


Postado, originalmente, em 25/08/2008.
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Resposta - por Anônimo

Ainda lamento versos perdidos
Do primeiro comentário
Que pena foram esquecidos
Por este cérebro otário

Mas faço nova tentativa
Vamos ver no que isso dá
Por isso reli prestativa
Ao esforço do pensar

Classificas discrepância
O que tem alicerce de amor
Me parece é implicância
Mas como fez, tem louvor

De novo me vem a lembrança
Daqueles nossos avós
O que nos dava esperança
Em meio ao mundo atroz

Por isso tenho que dizer:
Não se atenha a coisas assim
Achou o que já não se vê
Se te incomoda, olha pra mim!

Em meio a Rhus tox, formol...
Está bem, sempre cuidada
E se o outro lado vive em prol
De ter a mente avaliada?

É bonito de se assistir
Às duas almas que flutuam
Há muito em paz sem desistir
Só contra o mal é que lutam.

Pra terminar eu deixo então
A idéia que se faz
E te informo de antemão:
Pra vocês, desejo é MAIS!

Mais de tudo que há de bom
Mais de todo bem que virá
Mais do amor que dá o tom
Pra essa paz se aconchegar.



Resposta a Discrepâncias, de Ana.
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Pertinho do Céu - por Clarice A.

.....Sentada num grande galho da jaqueira a menina acenava para a mãe que a procurava da janela da cozinha. A mãe já não se preocupava mais com a mania da menina de subir nas árvores, acostumara-se com isso. Quem a ensinou foi o irmão mais velho e ela o acompanhava ágil, segura, ele ensinando-lhe onde pisar, a procurar os galhos mais fortes, os entroncamentos onde podia sentar-se e descansar da subida, a ter cuidados com as lagartas, distinguir entre elas as perigosas que queimavam, como pegar as frutas mais distantes sem cair. Era atrás das frutas que ele subia; ela, porque gostava de subir nas árvores, e quando chegava o mais alto que conseguia esticava o braço com a mão espalmada para o alto como se quisesse tocar em algo e gritava: mãe, estou pertinho do céu. A mãe mandava que ela descesse e viesse para a jaqueira que ficava bem perto dos fundos e podia avistá-la enquanto fazia o serviço da casa. Além disto, o galho em que a menina sentava-se era forte e não muito alto. Ela dizia para a mãe que as coisas diminuíam de tamanho quanto mais alto subisse e descrevia os ninhos que via, mas não tocava.
.....A menina gostava de brincar com os irmãos, colegas, os numerosos primos mas a correria e o barulho a cansavam rapidamente e preferia ficar sozinha observando os pássaros, as fileiras de formigas e os demais insetos que habitavam o seu quintal. Não tinha medo, não os pegava, apenas observava. Ajudava a mãe a cuidar do jardim, regava as plantas, sabia a época das flores e das frutas. Criança observadora e de natureza contemplativa.
.....Um domingo à tarde a tia apareceu com os primos para irem juntos ao parque de diversões. Tarde promissora de céu azul e temperatura agradável.
.....No parque as coisas num ritmo frenético. Primeiro os carrinhos, desviando, batendo uns nos outros, os risos, os gritos de susto e alegria. Dali vieram as voltas num carrossel e depois a montanha-russa com a lenta subida e a descida vertiginosa. Quando chegaram lá embaixo a menina apertando a mão da mãe pediu com voz chorosa que voltassem para casa. Tonta, enjoada, as pernas bambas, o coração acelerado, não entendia como aquele lugar podia se chamar parque de diversões. Queria estar em casa, na sua jaqueira.
.....As duas separaram-se do grupo, sentaram-se até que a menina se recuperasse e foram dar uma volta pelo parque enquanto os outros brincavam. Ao avistar a roda-gigante a menina observou o lento movimento para cima, seus olhos voltaram a brilhar e ela pediu à mãe para dar uma volta. Enquanto a roda subia lentamente, o sorriso e a alegria voltaram ao rosto da menina e, quando a cadeira em que estavam atingiu o ponto mais alto, ela esticou o braço com a mão espalmada e disse a frase que a mãe já esperava: mãe, a gente tá pertinho do céu. Enfim, naquela tarde, naquele mesmo parque, a menina encontrou o significado do lugar se chamar parque de diversões.


Inspirado na serigrafia Roda-gigante, de Anita Bastos.
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