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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Tema do Mês de Dezembro: Recordações

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Caríssimos amigos:
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Hoje foram publicados os textos referentes ao Tema do Mês: “Recordações”,
sugerido por Alba e vencedor da enquete.
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Participantes
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Aaron Caronte Badiz
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Ana
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Clarice A.
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Dália Negra
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Lélia
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Soraya Rocha
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Victor Luis
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Muito obrigado a todos que colaboraram com esta “blogagem coletiva”!
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Um grande abraço!
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Ex-orcismo - por Gio

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Ele vem de noite, quando você está prestes a dormir. Quando você acha que vai ganhar o que sempre sonhou, ele vem e relembra o passado, apontando o que de pior você já fez. Leva você para uma viagem do tempo, que te faz repensar sobre tudo. No fim, você acaba se convencendo que não merece o que estava prestes a receber, e larga de mão. O Fantasma do Natal Passado? Tirando a parte do Natal, ele é sim um fantasma do passado. Mas você o conhece por outro nome: o Ex.

Todo mundo tem um (ou uma) Ex. Eu já tive o meu caminho atrapalhado diversas vezes por estes seres, e certamente eu sou o Ex de alguém. Se eu der sorte (ou eu deveria dizer “azar”?), acabo sendo o Ex de mais de uma. Não ria. (Ou você acha que escapa?) E isso é certeiro: ex-namoros, ex-casos, ex-ficantes, e “amigos de micareta” todos podem ter bastante; agora, Ex, com sorte, você só vai ter um.

Pode ter sido um namoro de dois anos, um caso de duas semanas, ou uma rapidinha de dois minutos. Em casos mais graves, não chegou a ocorrer nem mesmo um envolvimento efetivo entre as partes. Pois, no caso do Ex, não depende o tempo de contato, mas sim o seu envolvimento afetivo com ele. De alguma forma, você gostou dele. Depois, por algum motivo, a história termina de um jeito muito estranho. Deixem eu me retratar: a história não termina, é claro que não – aquele momento é que termina. Ele foi seu namoro que terminou por causa dos pais, um primo de quem você não se esqueceu, uma paixão que surgiu durante um namoro. Poderia ter dado certo, não fossem outros fatores.

E é esse o segredo do Ex: poderia ter dado certo. Culpa sua, culpa dele, ou culpa de ninguém, não interessa: em outras condições, poderia ter dado certo. E isso parece dar um aspecto mágico (e certo poder) a essa figura notável na sua vida. O Ex pode acabar com namoros e romances promissores, deixar sua cabeça confusa, virar seus planos de cabeça para baixo, e provocar fortes recaídas, além de crises de ciúmes irracionais. Às vezes, não tem jeito, o problema é terminal: termina em casamento. Ou termina com um.

Apesar de toda essa confusão, nem sempre o Ex é uma entidade má. Muitas vezes, ele nem sabe que é de fato um Ex (e, de fato, muitas vezes você não percebe que ele é). Tudo vai depender do contexto: se é proposital, qual foi o motivo do término, e quais são as intenções de cada um. Atrás da figura de um Ex, pode estar o que você sempre sonhou... Ou pode estar o pior dos cafajestes. Se bem que um não exclui o outro – é tudo uma questão de ponto de vista.

O maior perigo aqui é ser levado não pela paixão, mas pela obsessão. Querer sem bem saber porque, ou não querer e continuar sendo afetado por isso. Dar uma nova chance pode servir de ultimato, e esclarecer as coisas... Desde que seja uma, e não uma compulsão frequente.

E você, já encontrou o seu Ex hoje?
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Visitem Gio
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Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Ana

Como o tema é “Recordações”, lembrei deste belíssimo poema do Casé (quanta falta faz aqui!), que achei profundamente sensível e absolutamente perfeito. Parabéns, Casé!
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LOBO DO MAR
(CASÉ UCHÔA)
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Nos portos que conheci
Deixei pedaços de mim
Lembranças que trago agora
Dos dias que já vivi

Verões que não voltam mais
Trovões que não mais ecoam
Saudades de cada cais
Gaivotas que já não voam

Espectros do que eu fui
Visitam-me a cada noite
Remorso que me possui
Carrasco com seu açoite

E o velho lobo do mar
Não resistiu à lembrança
E voltou a navegar
Alimentando a esperança
De encontrar pela frente
Trovão, raio, tempestade
Onda gigante, naufrágio…
A morte é melhor que a saudade.
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Visitem Casé Uchôa
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As Nossas Palavras XVII - por Aaron Caronte Badiz

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Sofá na sala de estar...
O passado para relembrar
Toda vez que o vamos usar.
É um trampolim para o nosso amar
Que deveríamos mais vezes rememorar.
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Baú - por Adhemar

Neste solitário abrigo,
neste solar tão preservado quanto antigo
estão guardadas as mais antigas lembranças.
É num quarto bem fechado
mas se faz hora da limpeza.
Emoções presentes
que outras não temos guardadas similares...
Ao olhar as ultrapassadas autodefesas,
que não servem mais pra nada;
tantas poesias desperdiçadas,
isto é,
despedaçadas na inclemente ação do tempo.
Recordações misturadas.
Tudo desarrumado neste solitário abrigo,
ora aberto para resgatar o que é inútil
e dar lugar à tralha nova;
novas emoções,
novas poesias e, quem sabe,
até o lindo momento erigido
ao profundo e inesperado sentimento novo.
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....................Visitem Adhemar
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Recordações - por Alba Vieira

Há momentos em que o passado
Invade de tal forma a vida da gente...
Parece que as lembranças transbordam
Qual a água de cabeça de enchente
Vêm aos borbotões e nem pedem passagem
E então provocam tão vívidas emoções
Porque são perfeitas as imagens
Trazidas pela mente aos nossos corações
Imagens do que foi vivido
Num tempo triste ou feliz
O que importa é que o espírito
É sacudido até a raiz
E quando existe a saudade
Lembrar-se de tudo é outra vez viver
Tanto que dá gosto cismar à tarde
E essa melancolia só nos dá prazer
E então desfilam variadas vivências
Coisas que pensávamos nunca recordar
E quanto mais distante no tempo a ocorrência
Mais detalhes e clareza vamos encontrar
Às vezes é possível ao fechar os olhos
Ter tudo daquilo uma outra vez
Imagens, sons, perfumes, o mesmo abalo
Que quase acreditamos que o mundo se refez
E a recordação alimenta a alma
Refresca o sentimento, tem grande poder
Relembrar ajuda, traz de volta a calma
Quando a saudade é tanta que nos impede de viver
Na verdade pra emoção o tempo não vale
É coisa que escapa de tempo ou lugar
O coração da gente é um mundo à parte
Render-se a este fato é questão de pensar...
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................................Visitem Alba Vieira
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Ânsia - por Ana

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Tarde da noite sigo seu rastro
De mulher jovem, decidida e bela.
Eu sinto remorso, orgulho, simpatia,
Enquanto me esgueiro por entre estas vielas.

Há casas de mil tipos, gente pela rua,
Caras conhecidas que eu não cumprimento.
Pois a minha pressa me mantém cativa,
Não me permitindo outro pensamento.

Quero encontrá-la... Onde estará?
Há tanto tempo não a avisto... Espere!
Ali... É ela... Deus! Quanta saudade!
Será que há abraço que supere?

Eu me aproximo devagar, nervosa,
Por encontrá-la após tanto tempo.
Olho-a nos olhos: sou eu mais nova,
A doce lembrança de meu melhor momento.
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Recordações - por Cacá

“Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.”

(Drummond – Memória)
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A nostalgia eu a considero um libelo contra um futuro que se faz de presente na vida sem pedir licença, sem nos dar tempo de aceitá-lo. Resisto a todo novo que não se justifica em oferta de felicidade. Se estamos em algum lugar diferente do usual, chega um momento em que queremos retornar. Se estamos em uma condição de vida não muito agradável afetivamente, também chega um momento de desejo do retorno. Retornar para onde? Retornar para quê? Normalmente para a segurança por vezes insuportável da nossa rotina.

Isso me faz lembrar algo. Estive em casa de meu pai durante as festividades de natal durante 4 dias e por melhor que estivesse o ambiente, toda a família reunida, bateu uma saudade de casa. Porque ela é a minha rotina. Escrever, cozinhar, ficar em casa, enfim. E afinal cheguei. E as recordações dos dias que lá passei são o registro mais evidente da minha vontade de voltar. Estava ruim? Ao contrário. É por gostar mesmo das recordações e para que elas não se percam em uma outra rotina é que resolvi voltar. Para ter mais assunto ano que vem, quando nos reunirmos todos novamente e contarmos casos do ano que passou e da infância. Esses são infalíveis. Talvez pelas marcas indeléveis que ela deixou. Talvez por querer que a nova geração de filhos e sobrinhos saiba o quanto foi bom e o quanto serve de estímulo para que eles construam a sua história também. Mas história a gente não constrói com intenção historiográfica. A gente constrói com propósito de satisfação pessoal ou de grupos. Só no momento do pensamento na posteridade é que há desejo de registro. E ele se dá em primeiro lugar com recordações.

Agora, aqui pra nós, a recordação não é um assunto que fica melhor encaixado dentro de uma música ou pelo menos embalado por ela? Não consigo embarcar nos momentos de memória afetiva sem um fundo musical. Na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, até que a morte me separe da matéria pensante, não consigo dissociar recordação e música.

Nesse arrebatamento, essa tal recordação é assunto que nos transforma a todos em poetas. O amor que guia os versos, o pensamento que leva para cantos recônditos, a emoção que cutuca o sentido da lembrança. Sempre que o presente se apresenta insosso e o futuro dá ares de pessimismo, as recordações me acalmam o espírito trazendo esperança diluída em saudade.
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Visitem Cacá
Carlos Drummond de Andrade

A Árvore de Natal - por Clarice A.

.....O mês de dezembro talvez seja o que traga mais recordações para eles. E lá estão os quatro de cinco irmãos (um deles já tinha compromisso com a família da mulher) reunidos na casa da irmã. São três irmãs e o mais novo dos homens e há muitos anos reúnem-se no Natal. Colocam a conversa em dia e invariavelmente comentam sobre o passado. Quando crianças, a parcimônia do Papai Noel. Aliás, naquela pequena rua de subúrbio onde moravam, salvo raríssimas exceções, Papai Noel era parcimonioso com todas as crianças, o que não estragava a noite nem a diversão. Eram muitas crianças e as brincadeiras garantidas.
.....A anfitriã mostra a árvore nova, de fibra ótica com led’s, enfeites novos, e o irmão, que sempre as surpreende, pergunta às três: lembram da nossa árvore de goiabeira? Excelente memória, chamado por elas de miolinho de ouro, ele parece ter suas lembranças numa prateleira ao alcance das mãos tal é a rapidez com que as traz de volta. A mais velha e a caçula lembram-se logo, a do meio vai buscar no fundo do baú, escondido em algum canto da memória. E encontra. A lembrança vem nítida e forte. Já eram crescidos, e queriam uma árvore de Natal, mas cadê a verba? Inexistente. O pai fazia questão de caprichar na mesa, gostava de fartura, não dava muita bola para essas coisas. Decidiram improvisar. Foram para o quintal, escolheram um galho bem ramificado da goiabeira, cortaram, pintaram de prateado, colaram algodão, penduraram bolinhas vermelhas, plantaram-no num vaso e lá estava a árvore de Natal pronta enfeitando a sala. Talvez para os que olhassem com olhos de mesmice, aquela árvore naquela casa simples fosse tosca, mas eles estavam satisfeitos com a sua arte e na verdade ela ficou bem jeitosa. Diferente. Para completar a noite de Natal, a ceia no capricho preparada pela incansável mãe. Assados, bolo, ameixas, nozes, avelãs, castanhas e as rabanadas: as fatias de pão molhadas no leite, passadas nos ovos batidos, fritas, secas em papel e envolvidas na mistura de açúcar e canela, inesquecíveis. Alguns vizinhos apareciam para dar um abraço nos seus pais, pessoas queridas. Gratas recordações de um tempo feliz vivido por eles, um tempo em que o apelo ao consumo, as grifes e as inovações tecnológicas não eram presentes como hoje. Mas a vida segue seu curso e daqui a alguns anos a árvore de hoje, assim como a de goiabeira, será mais uma lembrança. Outra modernidade a substituirá. Insubstituível é o amor fraterno que os une e reúne e os faz recordar a vida, neste Natal e em quantos o sucederem.
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Nau Perdida - por Dália Negra

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Carrego comigo memórias
Como âncoras que me mantêm
No mar revolto da dor
Sozinha, sem mais ninguém.

Sem horizonte à vista
Que me faça acreditar
Num navio sem amarras
Com ânsia de aportar
Em continente aprazível
Para, enfim, descansar
De ondas descomunais,
De tormenta secular.

E nesta minha prisão,
Aguardo o que vai chegar:
A lembrança definitiva
Que me fará naufragar.
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Recordações - por Dan

Conservar...
vale a pena saber...
apenas amar...
sofrer...
saber das intempéries do tempo

Aprender...
sentir a saudade...
viver sem ela...
saber...
semear e colher

Passado...
levitar por todos os caminhos...
construir o mundo...
estar em outro lugar...
fazer...
comemorar com o coração
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Visitem Dan
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Nenhuma Recordação Mais Doce Há! - por Esther Rogessi

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Não tenho recordação de ter recebido nenhum toque - por mais sutil que tenha sido - que tenha me transportado ao êxtase da entrega verdadeira - encontrada tão só nos braços de quem se ama e confia – além das sutis carícias em forma de brisa, quando despida caminhei de encontro a ti...

Nenhuma recordação se me apresenta mais doce que aquele entardecer à beira-mar... Quando solitária e extasiada contemplei o beijo ardente do sol nos mornos lábios do mar...

Nenhuma recordação maior trago em mim... que tenha me despertado maior leveza e ternura, que a do momento em que, no alto da montanha, de braços abertos, fechei os meus olhos para te absorver, ora suave... lento, ora forte, impetuoso... Tomando- me o corpo, me arrebatando, como que a sugar-me as vestes, me conduzindo ao torpor... E assim, esvoaçante, olhando a paisagem aos meus pés, doce vislumbre por trás do véu neblinante; olhando para o alto, muito mais alto do que eu me encontrava... Senti-me tão ínfima... Senti-me nada!...
Outra vez, chegaste a mim... Consolando-me, senti teus abraços sem braços, entreguei-me, totalmente... Éramos só tu e eu... anulei meus pensamentos... Quis ser borboleta voando amparada por ti, tal qual o mar ampara o barquinho a navegar... Quis planar, rolar, dar cambalhotas, como se uma folha seca então eu fosse... E contigo brincar... Ar, vento, ventania, alegria é te sentir e contigo rodopiar!...
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Nenhuma recordação mais doce há...
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Visitem Esther Rogessi
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Eu e Emanuelle - por Flavio Braga

Quando a conheci, eu nem tinha maldade o suficiente para imaginar posições sexuais. Escutava os meninos mais velhos, de 15, 16 anos, falando de posição X ou Y e eu fazia força para tentar imaginar como que era. E, na maioria das vezes, achava aquilo tudo impossível, a menos que se estivesse transando com uma ginasta romena. Mas isso foi até eu conhecê-la. Até pouco tempo achava que ela era muda. Pior. Muda e bem mais velha. Não sei se minha mãe aceitaria que seu então filho inocente se relacionasse com uma mulher mais velha.
Não sei onde Emanuelle se metia durante a semana toda (ou se era metida a semana toda, vai saber), mas a madrugada de sábado era nossa. Ela chegava lá em casa por volta das duas e pouca e ficava até... Não sei até que horas ela ficava. Só sei que eu ficava exausto um pouco antes das três e ia dormir sem me despedir, e ela nem ligava. Entrava muda e saía calada lá de casa, porque o barulho podia acordar as outras pessoas da casa. Pois é, sexo perigoso e divertido.
E ela me mostrou até alguns lugares do mundo, mas ela me mostrou também seu belo par de peitos. Isso para um garoto de 14 anos é bem mais interessante que viajar para ver touradas, ir a África ou ao Oriente. Pensando bem, dependendo do par de peitos e do conjunto da obra, é bem mais interessante até hoje. Que seja. Lembro que tinha vezes que ela parecia outra pessoa. Tinha dias que ela tinha um jeitão tão anos 1980, em outros era um mulherão ao estilo anos 1990, mas sinceramente, pouco me importava. Só sei que tinha dias que as luzes ficavam meio baixas, o quarto parecia rodar... Algumas vezes ela até me pediu para colocar uns óculos 3D, para apimentar um pouco mais a noite, mas nunca consegui usar os tais óculos, por dois motivos: o primeiro era que eu achava – e ainda acho – ridículo usar óculos em lugares escuros. O outro motivo era que eu não tinha os malditos dos óculos. Mas era bom, mesmo que com ela eu sempre tive a impressão de estar sozinho. Mas dane-se. Ela era minha.
Mas não era só minha. Meus amigos também conheciam Emanuelle. Como? Não sei. E faziam todas aquelas coisas que eu fazia com ela. Estranho. Não me lembro de ter participado de nenhum gang-bang, ainda mais com conhecidos, alguns que até hoje são bem mais feios que eu. Não faziam o tipo de Emanuelle, tenho certeza. Só podia ser mentira, blefe de moleque invejoso. Calúnia! Mas desde sempre sabia que não podia confiar em Emanuelle, que parecia separada de mim por um vidro, uma tela. Fiquei transtornado, inconsolável, pelo menos até o primeiro par de peitos que de fato toquei. Mas isso é outra história.
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Visitem Flavio Braga
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Recordações do Povo - por Kbçapoeta

Acredito que vivo para recordar.
O que seria da vida se não fosse a recordação dos feitos para contar um pouco “floreado” depois?
Se não pudéssemos recordar, não existiria futuro. O que seria este senão o acúmulo de recordações, travestidas de ações, que culminam no presente semiplanejado?
Não esqueçamos que o presente, futuro do ontem e passado do amanhã é uma espiral sem fim, que exige cada vez mais velocidade.
Saudade do tempo em que não eram tão penosas e ágeis as relogiosas horas, quando o tempo não era quantificado, precificado e superavitário.
Em breve teremos uma nova tendência de mercado: O ócio.
Chaplin em “Tempos Modernos” mostrava-nos a carência extrema de tempo, Commodity abundante no capitalismo pudico, militar e bossa-novístico que encantava povos e nações.
Hoje o Eldorado é o inverso, buscamos o ócio para celebrar nosso sucesso, espólio digno de um Cezar.
E o sentido da vida que é recordar!?
Perde-se nos bits e bytes dos e-mails e máquinas digitais perecíveis no estalar de uma década.
Não teremos mais fotos amareladas!
Papel fotográfico apenas para nobreza ou quem sabe, algum poeta fora do eixo imaginário das percepções, buscando essência nas coisas que passaram, eternizando-se, amarelando-se e deliciosamente impregnando-se em seu inconsciente.
E os outros?
Serão relegados ao sistema fahrenheit 451 onde tudo que é importante fica na memória encefálica, não eletrônica.
Segundo o adágio popular, o povo tem memória curta.
Espero que não seja verdade.
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Visitem Kbçapoeta
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Recordação - por Lélia

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Um dia eu te amei. Um dia fomos felizes. Um dia a vida foi linda.
Mas acabou. De forma repentina, de forma triste. Eu chorei, lamentei por nós.
Enxuguei as lágrimas e prossegui. Hoje recordo alegrias e sorrio.
Um dia eu fui feliz...
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Recordações... Saudades... - por Manhosa

Muitas coisas marcam minha vida...
... retratos...
... cheiros...
... sons...

Recordações... saudades...
Amigos que já partiram... para o todo sempre...
Amigos que nunca mais vi...
Pessoas que simplesmente cruzaram... mas...
Sonhos realizados...
Sonhos desfeitos...
Sucessos...
Amores... risos... nem tantos...

Presente... lembranças que se multiplicam...
Sinto o mundo girando...
Procuro juntar os fragmentos...
Preciso encontrar o que perdi...
... não sei onde...
... não sei bem o quê...
Um coração nostálgico... que funciona com seu sinal vital...
Meus sentimentos se atropelam...
Só sei que preciso para enfrentar o amanhã...
O desconhecido...

Futuro... o amanhã...

Mas... as Recordações...
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..................................................Visitem Manhosa
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Recordações - por S. Ribeiro

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talvez não me interesse lembrar de nada com essa conversa íntima e própria que tenho comigo assim na minha frente olhos nos olhos sem precisar justificar nada

como uma lembrança

a memória um dia falhará assim como é certo que alguns dias serão de choro mas não pondere esqueça esquecer faz parte da lógica do mercado e das belezas empacotadas e dos sonhos do começo do século não se perceba que isto implicaria numa lembrança morna anule-se para o espelho

talvez aí sobre vida
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Visitem S. Ribeiro
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Recordar - por Soraya Rocha

Recordar é viver,
Relembrar, reviver.
Lutar para não esquecer,
É brigar com o morrer.

É dentro de si manter
Aquilo que o faz crer
Que valeu a pena nascer,
Por todo o caminho aprender
As lições do bem querer.

E então, ao entardecer,
De nada se arrepender,
Apenas compreender
O bem e o mal do que é ser.
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Meu Casaco Vermelho - por vestivermelho

Olhei, não resisti e voltei para olhar de novo.
Sim era idêntico ao meu lindo casaco vermelho.
Voltei ao tempo que ganhei. Estava um tempo muito frio, daqueles frios que gelavam mesmo, ao recordar me deu até um friozinho.
Era meu primeiro casaco, tinha sete anos, parece que foi ontem.
Meu padrinho que me deu de presente.
Queria um, como meus pais não tinha condição financeira, mencionei para ele que queria um casaco...
Bem, fiquei linda, conquistei meu primeiro elogio... onde passava, ouvia...
- Que menina linda!
Olhando de novo me vi linda. Com meu vestido vermelho, não sei se é a cor vermelha que me deixa linda ou sou linda mesmo...
Depois do casaco vermelho, tive várias coisas vermelhas... sapato, tênis, sandália, blusa. Saia, meias etc. mas o que nunca deixei de usar: um belo vestido vermelho.
Recordei ali parada como fui feliz depois que ganhei meu casaco vermelho.
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Visitem vestivermelho
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Recordação do Ventre Materno - por Victor Luis

Pés afundados em putrefata lama
Escuridão subindo em minha garganta
Ínfima parte de fútil trama
Que os indesejáveis sempre levanta

Tudo era mais simples na infância
Antes do início de tal espetáculo
Criada por homens em sua ganância
Esmaga todos em seu tentáculo

Não há agasalho para este frio
Mas sei que um dia pude evitá-lo
Ventre materno em dia sombrio
Me protegia, até abandoná-lo

Desolado estou na selva de concreto
Onde coisas inúteis recebem aumento
E tudo que quero é voltar ao afeto
Quero de minha mãe quente acalento
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Eu Era Criança - por ZzipperR

.....Sentamos na varanda, eu e meu querido Mano, começamos a relembrar a nossa infância. Como era diferente de hoje, tudo era criatividade e magia. Aquelas brincadeiras tão importantes para nós ficaram no tempo. O que aconteceu? O que mudou?
.....A cultura passava por gerações. Pais, avós e crianças brincavam juntos e o tempo apagou.
.....É interessante o progresso, a comunicação, a globalização, mas faz perder a criação, a interação e a compaixão.
.....Nós andávamos por esta rua, sem pensar em nada.
.....Não sei como os vizinhos suportavam os nossos gritos de Tarzan! Parecia um bando de macacos, mas a comunicação era perfeita. Pelo grito, sabíamos até se o amigo estava almoçando. Certo dia aconteceu um fato muito interessante, nessa comunicação de macaco, o “Gil negão”, que estava em cima de um pé de caqui, resolveu soltar as mãos, para fazer uma comunicação e escorregou do galho, foi um barulho enorme no meio dos galhos e caiu de costas no chão. Lá de cima! Fiz um som de macaco, para ver se ele estava bem. Escutei ele gritar: - Chega! Não falo mais a língua dos macacos.
.....A grande árvore que tinha na rua não aguentava mais o tanto que subíamos pelo tronco e descíamos pelos galhos.

.....Quando eu era criança, nunca andei sozinho. Eu tinha sempre um cachorro do lado, sou capaz de fazer uma relação de nomes como: Dick, Bidu, Sultão, Fera, Chorrinho, vou parar que vai encher a página. Fique claro que Chorrinho era o nome, o cachorro era grandão.
.....O futebol era coisa de louco, todo dia jogava a nossa rua contra a rua de cima, era cada briga de arrepiar, saía até pedrada; no dia seguinte, outro jogo, outra briga. Hoje, quando nos encontramos, temos prazer de rever e conversar. Não é incrível o que o tempo faz?
.....Mano diz: - Você vai contar a história da pedreira Zipe?
.....- Não! Eu queria contar a época das marmitas. Conto?
.....- A história pode ser boa ou ruim, mas nunca vai ser uma história, se não for contada.
.....- Sabe, mano? E eu pensava que os adultos eram inteligentes. Doce ilusão!
.....- Conta logo!
.....- Eu tinha nove anos e o Mano tinha seis. Meu pai era um cara ignorante aos extremos, não aceitava que quebrassem as regras impostas por ele. Confesso que ele tinha frases inesquecíveis. Preste atenção! Quando ele estava conversando com alguém e isso era lei, não podíamos falar nada, a frase era “conversar com vocês é o mesmo que dar bom dia a cavalo”. Quando ele estava fazendo um negócio falava: “Por cima de mim, só de helicóptero”, está última frase realmente é criativa.
.....Ele não comia arroz esquentado, tinha que ser feito na hora. Por isso, eu e o Mano caminhávamos nem sei quantos quilômetros para levar sua comida, e mais, tinha hora para chegar. No caminho nós passávamos por uma cidade chamada Taboão da Serra, lá tinha o morro do Cristo com uma escadaria sem fim, nós tínhamos que subir todo dia, não tinha outro caminho. O consolo era olhar a cidade lá de cima. Eu me sentia poderoso!
.....O texto já está muito grande, e como disse o Ziraldo “O menino maluquinho cresceu e virou um homem”.

..... - Zipe! Você tem um som violento aqui no seu computador, amplificador e quatro caixas grandes, você gosta de som pesado, por isso que a música te domina.
.....- Mano! A música tem que me dominar, me amar, dar carinho e paz, enfim, ser uma companheira. Se ela parar, morre o contador de histórias. Chega!
.....- Senhor! Obrigado por colocar esse cara na minha vida, para participar e compartilhar tanto dos momentos bons quanto dos ruins. Eu amo ele!
.....- Estou cansado de escrever e carente, preciso beijar alguém.
.....- Zipe, não agarra! Beijar não! Não beija! Para, Zipe.....
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.Zip...Zip...Zip...ZzipperR
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Visitem ZzipperR
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O Olhar Atento da Maturidade - por Alba Vieira

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Recordar é recolher nas vivências do passado, lindas flores perfumadas compondo um ramalhete que vai enfeitar sua mesa da sala enquanto você, de frente para a janela, observa, atentamente, os acontecimentos que formam o belo jardim que viceja no seu presente.
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Visitem Alba Vieira
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