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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




domingo, 31 de outubro de 2010

Tema do Mês de Outubro: Outono

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Caríssimos amigos:
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Hoje foram postados os textos referentes ao tema do mês de outubro: “Outono”,
sugerido por Vera Celms e vencedor da enquete de março.
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Participantes:
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Aaron Caronte Badiz
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Ana (2)
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Dália Negra
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Lélia
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Penélope Charmosa
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Soraya Rocha
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Muito obrigado a todos que colaboraram com esta “blogagem coletiva”!
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Um grande abraço!
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Outono - por Vera Celms

A primavera mal começou,
Nem todas as borboletas acharam o caminho,
Nem todas as cores amadureceram ainda,
E aquela que foi sogra de novo aniversariou,
Um padrinho antes,
E os políticos já indignaram o povo,
E o povo já se anunciou ludibriado,
ou iludido,
esperançoso quem sabe,
Então vêm as crianças,
De mão com a Madre Santíssima,
Comemoro então um filho,
Peso ideal de um lado da balança,
Nem todos os pássaros foram avisados,
A primavera corre solta...
Dança livre,
A dama perfumada e colorida,
Vestida de branco,
Com nuvens espalhadas pelos cabelos,
Sob o holofote solar,
Música no ar,
De tanta felicidade da natureza,
O dia fica mais longo,
A brisa mais fresca
Afinal, entre indignações e comemorações,
Outubro será encerrado pelas Bruxas,
Como há muito tempo,
Como sempre...
Correndo leves em torno do fogo,
Lindas, femininas, iluminadas,
Com flores nos cabelos,
Com a cabeça nas nuvens,
Como a primavera,
Tão lindas... tão encantadoras...
Saudando, venerando a Deusa...
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Visitem Vera Celms
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Outono - por Alba Vieira

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Ondulam ao vento as folhas que caem.
Úmidas e acastanhadas forram o chão nos quintais.
Tremulam os lençóis nos varais e a água se esvai.
Ouvem-se os lamentos da solidão no cais.
Nada é mais doloroso que um navio indo embora.
Outono é impermanência e a natureza não chora.
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Visitem Alba Vieira
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Ana Carolina em “Ruas de Outono” - por Ana

 
Nas ruas de outono os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia vai passar
As folhas pelo chão que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar

Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada
Quero ter você bem mais que perto
Com você eu sinto o céu aberto

Daria pra escrever um livro, se eu fosse contar
Tudo que passei antes de te encontrar
Pego sua mão e peço pra me escutar
Seu olhar me diz que você quer me acompanhar
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Ave Cigana - por Marília Abduani

Ave cigana
na beira do rio,
não dança, não canta,
não sabe voar.
Luz que rebrilha
no campo vazio,
no vago arrepio
do vento a tocar.
Ave cigana,
tantos desvios,
canto vazio,
navio a vagar.
Estrela cadente
perdida na noite,
fugindo da morte,
querendo brilhar.
Ave perdida
sou eu, no caminho.
Em mim, passarinho,
só quer descansar.
No campo, nas flores
buscando seu ninho
no bico, um carinho,
no peito, um luar.
Que vento de outono,
que pranto, que engano
soprou tantos planos
pra longe, no mar?
Ave esquecida
na mão do abandono
perdida, sem dono
e não pode voar.
Ave cigana
na beira do rio,
levando no canto
canções de ninar.
Mensagens ao vento
deixando na aurora.
Sou fauna e sou flora
querendo pulsar.
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Folhas - por Leo Santos

Folhas secas pelo chão,
hábitos higiênicos das plantas
nas pegadas do outono…
As árvores e suas cãs,
tardes em oposição às manhãs,
noites, p’ro ofício do sono…
A sombra, seu legado secundário,
bem primário, sob o domínio do sol;
Faz sua vida desejável,
sua morte lamentável,
até em contrário, prova.
Mas, sempre há folhas vivas,
até mesmo sob a neve,
a ousada que se atreve a cruzar o inverno;
Porém, a tempo sucumbe à sorte,
a morte lhe veste o terno,
e a vida se renova…
A insensatez evita as sombras,
vive em busca de calor,
por prazer é seu labor,
sua caça ensandecida;
Folhas que nascem e morrem n’um dia,
cujas impressões são voláteis,
pois é mui além das coisas táteis,
que se pode tocar a vida…
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Visitem Leo Santos
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Meu Outono - por Dália Negra

Entrego a mim minha dor,
Minha alma dilacerada.
Das flores, não restou uma...
Primavera despedaçada.

A solidão reside em mim,
Outono, bronze desbotado.
Árvore nua, sem cor.
O ar pesado, parado,
Que condiz com minha alma,
Definitivo, eternizado.
Sem sementes, obscuro,
Por nada fertilizado.

Outono sem folhas, seco,
Isolado, vazio, cruel,
Ilhado de outras estações
Por espesso e negro véu.

Outono em minha alma,
Outono é minha dor,
Outono, meu fardo pesado.
Outono, vazio de amor.
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Felicidade - por Aaron Caronte Badiz

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O teu olhar no meu olhar,
Uma rosa, a vela acesa,
Tua mão na minha mão,
O teu livro sobre a mesa.
Nossos corpos no sofá:
Outonos. E nossas singelezas.
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Outono - por Cacá

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Outono me dá uma sensação de neutralidade, de prenúncio. As outras estações têm um apelo coletivo muito forte. Muita coisa a favor da primavera. Inverno e verão numa disputa acirrada de preferências, mas outono... Nada sobra, nada falta, mas também nada se equilibra. Parece uma neutralidade da natureza, desprovida de consciência. Se continua o que passou ou se prepara o que vem adiante. Alguma coisa como deixar estar para ver como vai ficar. Não conheço os Deuses do outono, não sei dos reis e rainhas dessa estação. Qual o seu símbolo de encanto? É..., acho que folhas caindo são para a dúvida!
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Visitem Cacá
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Outonífero - por Davi Rodrigues

Do amadurecer propenso à remodelação infinita do ser
Remonta-se o saber, tal tectônico sentimento a mover
Folhas de passado deslocando-se suavemente do presente
Suculentos frutos de novidades embebedecem tal observador
Suave e breve brisa refrescando o corpo molhado pelas marcas do tempo
Chuva repentina, ora fria, ora morna tal qual as não decisões não tomadas
Posso avistar um certo frio pela frente, o toque invernal do desconhecido...
Algumas flores secas nos bolsos do acaso...
Trilhando entre arbustos dos andarilhos atemporais, sem estações para abrigo de trens...
Descarrilando de tais trilhos submersos empoçados e encharcados pelos rios cheios, com suas velozes vociferações de águas dos desenganos...
Eu e a montanha e o singelo farfalhar de folhas desconectas de seus galhos
Nesse momento.. sou folha, vagando ante a evolutiva alteração climática dos anos de minha vida
Sou nuvem se espalhando a nublar parcialmente...
Fruto maduro pronto a ser degustado nessa manhã outonal de meu existir...
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Folhas Secas - Outono - por Leila Dohoczki

Tantas foram as folhas
Que o vento levou
Amareladas, velhas
Consumidas pelo tempo
Que da árvore só resta tronco
E galhos secos erguidos ao céu.

Não há tristeza na paisagem
Ainda que pareça desolador
A árvore antes frondosa
Que mal abriga agora
As próprias raízes.

Até o passarinho se mudou.

Mas, há uma beleza tão grande
Nas folhas que se agitam ao vento no chão,
Arrumando-as e desarrumando-as
Mas todas elas alimentam a terra
De onde a árvore tem fincadas suas raízes,
Que não encontro outro nome que não seja
Beleza da perfeição.

Aqueles galhos erguidos ao céu
Não sei se em súplica ou em agradecimento
Brotarão novas folhas, flores e frutos
Se tornaram símbolo augusto de renovação.

Como eu, ela espera, pacientemente o final de cada estação...
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Visitem Leila Dohoczki........................
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Nosso Outono - por Soraya Rocha

Eu sou sua amada
Sou sua namorada
Sou a mulher dos seus sonhos
Sou sua musa tão esperada

Sou o seu porto seguro
Sou seu refúgio tão puro
Seu consolo, se está tristonho
Seu passado, presente e futuro

Sou a rainha de suas flores
Sou eu que curo suas dores
Eu te mantenho risonho
Por que caminho tu fores

Sou sua primeira-dama
A dona de tua cama
A poetisa que pra ti componho
Tanto amor no outono de nossa chama
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Devaneios - por Paulo Chinelate


Ah! Que bom estar aqui neste momento, enquanto a aragem um pouco fria do outono tomba levemente as folhagens das árvores.
Vejo, através da janela, o adormecer da tarde com seus raios luminosos a tingir de dourado o verde das montanhas, antecipando os primeiros sinais da noite que se aproxima.
Ah! Doces momentos! Encantamento de quem espreita cada segundo da vida e não quer perder nenhuma parte deste maravilhoso espetáculo da natureza.
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Lindas Cores do Outono - por vestivermelho

Chegou o outono e com ele as cores diferentes. Sou apaixonada pelas cores.
A primavera é sempre muito colorida, mas no outono as cores se transformam... O verde se torna sombrio, parece triste; o amarelo das folhas antes verdes torna-se um tom de ouro velho... e as flores sabem que vão enfrentar o inverno, se preparam com suas cores não tão vibrantes, penso que se tornam adultas.
O sol não fica mais até tarde, se recolhe cedo. Ele fica forte e suas cores parecem um misto de pinceladas de cores diferentes deixando a tarde tão linda que a noite chega mais bela, com sua brisa suave que dança entre as folhas. Fico na janela e imagino o que seria a vida sem essa beleza... É como se preparar para a morte, ouvindo e vendo as cores do outono.
Sentimos como o outono se prepara para a vida e morte.
Temos que parar e ver e ouvir as vozes do outono e seremos mais felizes...
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Outono - por Luiza Jardim

Outono sem eira nem beira
Borboletas amarelas
Folhas e o telefone toca.

Atender ou continuar na brisa da varanda?
Todas as portas estão abertas
Quase sinto o cheiro do vento
Nego telefone e afirmo ausência.

Aposto nas borboletas e permito,
consolada,
que as folhas se joguem no chão.
Quem sabe calar, suportar o vazio
Aguardar renovação.
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Visitem Luiza Jardim
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Outono de 92 - por Lélia

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Era outono quando te conheci. Folhas secas, descanso da natureza.
Mas foi nossa primavera, repleta de flores e exuberâncias.
E foi nosso verão, no calor de nossos abraços e na claridade da paixão.
Depois veio nosso inverno, gélido, de isolamento.
E ainda era outono quando te deixei.
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Uma Adaptação da Lenda “O Corpo Seco” - por ZzipperR

Depois de tanto tempo passado, parece até que fiz parte dessa lenda, a qual se fez presente na comparação de muitas histórias pelo meu pai e pelo meu tio, causando certa curiosidade e sensação de pavor ao ouvi-la.
O clima da história parece rolar num outono sem fim, pois os caminhos ficavam cobertos de folhas secas e nas passadas das pessoas o som dos estalos de gravetos quebrando penetravam no coração da alma causando calafrios e fazendo arrepiar.
Vamos esquecer o presente e mergulhar na lenda que se passou num passado distante:

Tudo aconteceu numa cidadezinha do interior, onde a simplicidade das pessoas fazia parte de uma boa receptividade, porém entre tantas pessoas boas o mal se fazia presente.
Não dá para dizer que faltou amor àquele homem, pois o amor da mãe dele estava presente a todo o momento, o que torna incompreensível tanto ódio e desprezo às pessoas. Fazer maldades para aquele homem era um prazer, não ter piedade dos outros um princípio e para isso não poupava nem a própria mãe, que parecia ser odiada por ele. Quem passava naquele caminho silencioso em que se ouvia o canto maravilhoso dos pássaros, também ouvia o choro quase calado daquela mãe judiada, que apanhava constantemente daquele ser monstruoso e malvado.
Os moradores da cidade tinham dúvidas se no corpo daquele homem desumano havia um coração e se estaria sob os poderes do demônio, porém o futuro prova que não estava, pois o demônio de tanto ser desafiado por ele, também não o queria no inferno.
O único capaz de enfrentá-lo foi o tempo, que passava lentamente e com toda tranquilidade tirava tudo o que ele possuía. O tempo cauteloso levou o seu pai, também levou a mãe que ele tanto judiava e por fim tirou dele a vida.
Deus se negou a recebê-lo no céu. O demônio não o aceitou no inferno e a terra se negou a recebê-lo, expulsando-o da cova. Tentaram enterrá-lo várias vezes, mas não adiantou, pois ele sempre voltava para infernizar a vida das pessoas.
Abandonado pelo mundo, ele passou a viver agarrado às árvores, que não resistiam ao seu abraço mortal e também secavam. Desta maneira ele se mantinha camuflado em caminhos desertos esperando alguma pessoa passar desprevenida para atacá-la e sugar o sangue. Se não aparecesse ninguém para socorrer a vítima, ele a sugava até a morte.
Abandonado pelo mundo, seu destino foi vagar assombrando a vida das pessoas, tornando um pesadelo caminhar em trilhas no meio da mata, pois a sensação de medo proporciona um calafrio de temor, dando a impressão de que está sendo seguido e será atacado a qualquer momento. Nem o tempo conseguiu vencê-lo, pois ele se tornou uma lenda. Até hoje ele é temido nas trilhas e entre as árvores no meio da mata.
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Zip...Zip...Zip...ZzipperR
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Visitem ZzipperR
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Márcio Silveira em “Outono Implacável” - Citado por Penélope Charmosa

Ela pára! Levanta a cabeça. Olha ao redor e vê ninguém andando pelas ruas do centro. Só o vento, as folhas caindo e a chuva fina melancolicamente a escorrer por seus cabelos longos, negros, pesados. Leva a mão da aliança ao peito, a outra junto à barriga. Contrações e inchaços. Dores constantes nos pés, mãos, olhos, cabeça, costas, coluna. O vento é agradável, mas o ar lhe parece tão rarefeito, mal consegue respirar. Sente um aperto no peito, abraçasse procurando conter o coração disparatado. O outono vai ser implacável. O corpo frágil, lânguido tenta se deslocar rapidamente entre poças d’água, mas sente-se um caracol de casco quebrado ao ver o reflexo de sua carcaça. Vê pela primeira vez seu rosto por inteiro. A solidão é algo tão forte que as lembranças lhe dilaceram as entranhas. Segue o caminhar. Já é tardinha e murmura baixinho:

- Desgraça de vida!

Sente que o mundo já não lhe causará mais alegrias, com voz tremula segue exclamando:

- Vida triste sem sentido num mundo traiçoeiro!

Com aparência de sete meses sente o bebê chutar a barriga, como se quisesse dizer algo. Ela pára. Ele não. Com as mãos na barriga diz em voz alta e chorosa:

- Você quer a luz, mas é muito cedo, pelo amor de Deus agora não!

A chuva se estanca por um instante e seus sentidos estão tão sensíveis que sente sob os pés, através das folhas úmidas, o tremor das águas correndo nas veias do concreto ao mesmo tempo sente o sabor cítrico da chuva. O frio aumenta e a noite logo cobrirá a cidade com seu manto negro azulado de luzes irritantes para seus esbugalhados olhos. Olhos que tanto testemunharam, como há uma semana viram seus pais carbonizados num barraco na Vila Bom Jesus, presenciaram seu marido sangrar até a morte por oito furos nas costas uma noite atrás no beco do mijo. Suas lembranças são interrompidas de súbito quando percebe as pernas encharcadas de um sangue quente, por alguns instantes sente um misto de prazer e terror, em seguida afrouxa-lhe as pernas. A chuva e o vento, agora congelantes, voltam mais intensos. Parece castigo, pensa. Em prantos olha para o céu e as gotas chicoteiam sua face marcada por cicatrizes. E na ânsia de se livrar das lembranças que retornam, em desespero corre, corre como nunca, mas logo cansa, desequilibra-se, mergulha no asfalto, grita, urra como um cachorro atropelado, até a vida esvair-se toda pelos poros e buracos do corpo esgotado. Em meio aos relâmpagos e trovoadas a chuva ameniza e naquele rosto cor de nuvens paira um leve sorriso embalado por um choro de bebê.
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Outono - por Alba Vieira

Pedalo pela ciclovia e tão solta quase chego ao êxtase.
O vento me conduz e desalinha o meu cabelo.
As paisagens são descortinadas pelos olhos bem abertos.
E tudo segue a imutável lei da natureza...
Logo, as folhas irão desprender-se dos galhos
E as árvores desnudas testemunharão a mudança.
Haverá então um certo equilíbrio nos tons de sépia
E os corações repousarão,
Para que possam receber o aconchego prometido do inverno.

A cidade parece descansar agora.
E é capturada pelo instantâneo da máquina fotográfica
Dos meus olhos que percebem a passividade presente em tudo.
É tempo de repouso, só de receptividade.
Os dias de outono são tão férteis!
Em nós, o inconsciente domina a cena.
É como uma preparação para escolher os temas
Que iremos “hibernar” no inverno, se estivermos sós.

Pedalo movimentando as ideias na cabeça.
Elas vêm e vão, não se fixam, são como as folhas...
Mais tarde, novos ventos irão soprar até que a mente adormeça.
Então, em sonhos, meus eus se desprenderão como bolhas...

Não me esqueço que um dia você se foi de mim sem perceber
Que o tempo passou, se fez outono.
- É que o amor só permanece para quem compreender
Que com as folhas atapetamos o caminho para novos sonhos.
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.Visitem Alba Vieira....................
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Inexorabilidade - por Ana

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Miopia
Artrose
Surdez
Perdas
Calma
Frieza
Silêncio
Solidão
Outono.
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domingo, 24 de outubro de 2010

O Duelos Voltou! - por Alba Vieira

Dia de sol radiante,
Prenúncio de felicidade.
Acordei cantarolando e
Pedalei pela cidade.

Qual não foi minha surpresa
Ao ver na telinha outra vez
Sim, era o Duelos, com certeza
Voltando a bombar em português.

Que falta que ele fazia!
Como era bom acessar
As notícias dos amigos
Nas composições a expressar.

Rendo homenagens a Shintoni,
Cujo trabalho é magistral.
Que possa estar sempre por aqui
Porque o Duelos pra nós é fundamental.

Obrigada pelo trabalho e dedicação
Que sabemos, é enorme...
Mas vale demais sua devoção,
Pois semente boa nunca morre.
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Visitem Alba Vieira
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Tempo - por Marília Abduani

Provo o mel da tua boca
Orvalho
molha o meu corpo e o teu.
Sou como a onda que bate
nas pedras tantas dos rios.
Sou seu mais novo brinquedo
que o tempo inda não comeu.
O tempo passa voando
e nunca espera por nós.
Quem dormiu não viu o tempo
cruzando a vida veloz.
Acordo a luz dos teus olhos
navalha,
corta o meu corpo do teu.
Eu sou a sereia que canta
os tantos segredos frágeis
que brotam dos sonhos meus.
O tempo passa voando,
bem rente ao meu coração.
Ah, tempo, que tempo sobra
pra dar tempo ao teu perdão?
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Corrida - por Leo Santos

Farei um poema, qual, inda não fiz,
e será um buquê, pra te regalar;
nele, além de linda, te verei feliz
pois meu sonho tu irás sonhar…

Meu anelo será um porto
onde ancorará tua esperança;
o cais, meus braços, teu conforto
o repouso terno do teu sono criança.

O que a vida te negou nos idos
e árida de alma, nem ousas sonhar;
terás, por minhas mãos oferecido,
surpresa ditosa, tardio realizar…

Uma flor mais bela que aparenta
subjaz à ternura que te proponho;
onde a alma repousa, nem sonho acalenta
pois estar, já será viver um sonho…

Na corrida pela raia olímpica do amor,
passaremos o bastão do revezamento;
ao lado passará outro corredor,
enquanto sairemos, vitoriosos do evento…
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Visitem Leo Santos
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É um Pássaro? É um Avião? Não... - por Ninguém Envolvente

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Pense em uma pessoa com 3 graus de miopia, olhando para o céu em um dia ensolarado e vendo um objeto voador não identificado. Este objeto vai baixando e se aproximando, o míope se desespera e começa a gritar “Ai meu Deus, está caindo outro Boeing!”... Então o objeto se aproxima e baixa mais chocando-se contra o prédio vizinho e após perceber que se trata de um corpo estranho pequeno demais para ser um Boeing, o míope pensa que é um baita urubu. E fica penalizado ao ver que a ave morreu de forma tão estúpida.
Bateu no prédio porque cansou de voar? Erro de cálculo? Pegou uma má corrente de ar?
Só Deus sabe...
Após ver a triste cena, o míope fica paralisado na janela, só observando, quando então uma lufada de vento “ressuscita” o urubu e ele voa novamente. Subindo... lentamente, até chegar na janela em que o míope triste se encontra e ele então nota algo escrito na ave “Econ supermercados”. Não sabe se ri por não ter sido um urubu ou se chora pela cena patética que ele propiciou a si mesmo confundindo uma sacola de supermercado com um urubu ou até mesmo um 737.
A míope no caso, sou eu. Mas o pior mesmo, foi quando estive em um parque e me aproximei cautelosamente de um pássaro para fotografá-lo e quando cheguei um metro próximo dele, vi que era mesmo um passarinho, porém de madeira e muito bem chumbado ao chão. Ou então a inesquecível vez que tirei foto de um cara vestido estranhamente e só no visor da câmera notei que era um espantalho!

Vou por a foto do meu amigo espantalho... E também a visão de um olho com 3 graus de miopia comparada ao olho normal!
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Bonitão, né? Pena que não tem nada na cabeça...
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Silêncio Estratégico - por Gio

Durante uma barulhenta aula de Química no ensino médio, aonde a maior parte do barulho vem de conversas paralelas (e não de discussões sobre a matéria, como deveria ser), você está empolgado discutindo sobre o comportamento dos seus colegas de aula, e se envolve de tal maneira no assunto que nem percebe o sinal da professora para todos se calarem. E muito menos a entrada da diretora na sala, motivo pelo pedido de silêncio. Na mesma hora que o “seminário” cessa, a única voz que se escuta é a sua, dizendo que “aquela Janaína é mesmo uma vagabunda”.

Melhor a Janaína ter faltado hoje.


Você está em um restaurante com música ambiente, o que normalmente seria bom. Acontece que o músico do violão-e-voz é tão ruim, mas tão ruim, que você está quase pedindo couvert para ouvi-lo. O pessoal da sua mesa resolve ignorar a música ambiente por esse motivo, mas nem por isso o violonista deixa de ser o foco das atenções. Uns lincham, outros têm pena, e os últimos se detêm a rir e reclamar da porção de fritas que nunca chega. Quando você resolve dar seu parecer, coincidentemente a música termina. “Se eu fosse esse cara, tinha vergonha de cantar em público”.

Bom, acho que não é só ele que deveria ter vergonha...


Mesa de bar. Mesa de bar é um lugar onde os papos voam de um território a outro em jatos expressos, mas fazendo o maior número de escalas possíveis. Vai de novela das oito a pelos pubianos em segundos, passando pela crise econômica, métodos de parto e quem tem o direito de usar sunga na praia. O maior perigo aqui reside nos assuntos paralelos, quando eles se cruzam. O assunto do grupo A cai em filmes eróticos, enquanto circula um catálogo de cosméticos que alimenta a conversa do grupo B. Quando acontece um pequeno momento de silêncio no grupo A, ouve-se alguém do grupo B dizendo:

- Levei três anos para descobrir que era um tubo de condicionador.


No meio da balada, aquele abafamento característico que te faz gastar a consumação só para não cair por desidratação, o improvável acontece: falta luz. Sem ventilação, tudo fica pior; e, sem música e sem luz, ficar naquela aglomeração melada a suor não faz sentido algum. O burburinho começa, desde pessoas reclamando do incidente até vítimas indignadas de quem se aproveitou da situação. O zum-zum-zum vai aumentando, até que a luz volta de repente, e tudo cessa... Exceto pelo seu amigo semi-alcoolizado, que subiu em uma mesa, e acaba de gritar “Vamos tocar fogo no lugar”.

Espero que os seguranças sejam legais com ele.


Silêncios constrangedores, frases das quais o autor vai se arrepender eternamente de ter proferido. Conclusões memoráveis, frases fora de contexto, comentários desnecessários. Acontecem quando você menos espera, e com mais frequência que você imagina. Se você diz que nunca passou por isso, é melhor se preocupar: ou é um ser fora dos padrões, ou já passou e simplesmente não notou. Alguma dúvida de qual é a mais provável?
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Visitem Gio
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Beija-flor - por Alba Vieira

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Um beija-flor dança no ar suspenso em alegria.
Toca de leve as flores coloridas e perfumadas,
Desenhando caminhos de intensa energia
Para os olhos que veem na alvorada.
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Visitem Alba Vieira...........
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.Pintura “Suavidade”, de Alba Vieira.
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Millôr Fernandes e “O Socorro” - Citado por Penélope Charmosa

Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que, sozinho, não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado.
A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouvia mais um som humano, embora o cemitério estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia:
- “O que é que há?”
O coveiro então gritou, desesperado:
- “Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!”
- “Mas coitado!” - condoeu-se o bêbado. - “Tem toda razão de estar com frio. Alguém tirou a terra toda de cima de você, meu pobre mortinho!”
E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.

Moral: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem se apela.
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In “Pif-Paf”.
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Virose - por Fatinha

Querido Brógui:

Depois de mais de um ano dando olé nas “viroses”, baixei no estaleiro. Por que viroses entre aspas? Porque agora, quando os médicos não sabem o que você tem, classificam a pereba de virose. Essa denominação serve para de um tudo, desde piriri até unha encravada, passando pela dor de cabeça e acabando na sensação de ter sido atropelada por um caminhão desgovernado.
Minha pediatra (pode parar de rir, eu tenho uma pediatra, tá?) diz que os médicos que estão saindo agora das faculdades não sabem nada. Ela diz que escolhe pela idade. Só serve médico velho. Já tem a listinha dela preparada, daqueles conhecidos, mas quando surge uma necessidade de algum profissional diferente, ela liga pro consultório e pergunta quantos anos tem o médico. Menos de cinquenta anos, nem pensar. Com cinquenta anos de idade, ao menos o cara tem uns vinte de profissão. Já é alguma coisa. Eu concordo com ela, trocando apenas o adjetivo “velho” por “antigo na praça” ou “experiente”.
Há alguns milênios atrás, a moda era stress. Eu ia para o médico, com uma baita infecção na garganta e ele perguntava: “Você está estressada?”. Ia mostrar uma irritação na pele e vinha a mesma pergunta. Ia tratar de uma anemia, a mesma coisa. Naquele período, eu já entrava no consultório dizendo que minha vida estava muito bem, obrigada, e que não estava sofrendo de nenhum distúrbio psicossomático.
Depois da moda do stress, veio a moda da alergia. Tudo tinha fundo alérgico. Fiquei preocupadíssima, a ponto de pensar que tinha alergia a mim mesma. Fiz testes alérgicos aos montes e, no último deles, quando peguei o resultado, uma amiga me disse, ainda no elevador, que eu tinha que viver numa bolha de plástico, que nem aquele personagem do John Travolta naquele filme. Lembra? “O rapaz na bolha de plástico”? Um dos micos que esse grande ator pagou antes de ser resgatado das profundezas do ostracismo pelo Tarantino e ir fazer “Pulp Fiction”. Não lembra? Não viu? Nem era nascido? Tudo bem, não perdeu nada mesmo.
Ano passado, depois de duas semanas bombardeada, de cama, achando que não iria sobreviver, fui à emergência de um hospital. Fiquei ho-ras esperando. Acho que eles deixam o cabra esperando na emergência para ter certeza de que é emergência mesmo, porque se não for, ele se levanta e vai pra casa (ou pro cemitério). Menos um pra atender.
Nesse dia, a médica me atendeu, disse que eu tinha tido não apenas uma virose, mas três. Isso mesmo. Emendei uma na outra, apresentando sintomas diferentes. Disse também que eu aparentemente estava com uma crise alérgica. Perguntou ainda se eu estava passando por um momento de muito stress.
Saí de lá com a certeza de que a moça estava atirando pra tudo o que era lado. Não tinha como errar. Ou era virose, ou alergia, ou “pobrema de neuvos”.
De lá pra cá, nunca mais fiquei doente daquele jeito e atribuo isso às doses diárias de Targifor C. Quem receitou? Minha pediatra, lógico.
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Postado, originalmente, em 23/10/2008.
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Visitem Fatinha
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Memórias de um Ex-Seminarista (Parte XX) - por Paulo Chinelate

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FÉRIAS… MAS QUE FÉRIAS!?
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Seis meses me separaram dos familiares desde a última vez que os vi. Muita coisa nova me esperava. Vovô Joanim já não se encontrava mais conosco. Sua morte foi-me participada havia dois meses e só agora o fato teve relevância. Ao visitar vovó Lídia, a viúva, pude observar o vácuo deixado por ele. Homem simples, de fácil se dar, me adotara como seu colega de pescaria. Andávamos longos trechos pelos trilhos da Central do Brasil que margeava o Rio Paraibuna e íamos buscar, em pesqueiros “secretos”, os petiscos do jantar. Agora o vazio.

Meus irmãos cresceram como nunca e exceto por um detalhe interessante, a cada vez que em casa me aportava, tinha a sensação de tudo em casa estar diminuto. A moradia como que se encolhera.

A novidade mais importante foi a inauguração de uma casa bem vizinha à nossa. Era uma construção nova pertencente ao Conjunto JK , no local exato onde antes ficava pequena lagoa, objeto das minhas peraltices infantis.

A saudade do local de velhas lembranças, no entanto, logo se esvaiu. Uma figura está sendo a responsável por isso. O nome dela é Mercedes. Longos cabelos, negros e lisos. Mal pude ainda observar seus olhos. É moda os cabelos estarem caídos pelo rosto, qual burka natural. É linda. Tem a minha idade. Filha de numerosa prole, sendo uma das caçulas. Já frequenta nossa casa, amiga de minha irmã Conceição. Tão logo aqui cheguei veio se apresentar e conhecer o vizinho “padre”. Desde então me vi perdido em sensações e pensamentos nunca dantes experimentados. Algo como fogo ardente queima-me por inteiro. Sinto-me estranho. Muito diferente do que sinto por meus pais, irmãos e amigos.

Nunca foi tão gostoso ir à missa. Voltar junto com o grupo onde ela estava ela era divinamente agradável.

Minha irmã, como soer deve acontecer com algumas mulheres, alcovitando, facilitava os encontros e reencontros. Meus pais, na santa inocência, tinham tudo como muito normal.

O pior é que o tempo dispara justo quando as coisas são boas e favoráveis. Os vinte dias das férias sumiram como por encanto.

Retornando à lide clausural já não tenho mais outros que não pensamentos a Juiz de Fora. Não me seguram mais razões outras que dantes me fixaram tão longe dos meus.

Tudo me parece estranho. As luzes e os verdes deste lugar já não brilham nem colorem mais como dantes .

Iniciou-se o segundo período escolar do ano letivo com as atividades pertinentes. Como “terapia ocupacional” qualquer esforço pareceu-me inútil. Por muitas vezes estou sendo chamado à atenção às aulas. Estou sempre no mundo da Lua. “Lua com cabelos compridos e olhos escondidos”.

Fui chamado a uma reunião particular com o Irmão Reitor. Não imaginava a que se atinha tal encontro. Os resultados escolares do mês em andamento ainda não tinham sido recolhidos. Seria ainda o assunto do cigarro nos bastidores do teatro?

Dia seguinte e após os afazeres matinais, preces e faxinas, sou convocado à tal reunião. Estou mais ansioso que apreensivo. Adentro o gabinete austero do Reitor. Sou convidado a sentar-me e ficar aguardando alguns instantes enquanto o mestre assina uns papéis.

Finalmente, após ler uma ficha que detivera à parte, inicia a conversa perguntando como estou. Respondo-lhe que “bem”. Dá uma espiadela na ficha que, certamente, agora tinha eu convicção, era minha. Diz querer saber o motivo de minhas preocupações atuais, ao que respondo evasivamente, e com sinceridade: “nenhuma”.

Perguntou-me como foram as férias, como encontrara a família, que locais eu visitara e quem eu conhecera.

Sempre fui muito sincero. A lição que papai mais evidenciou foi a de que nunca mentisse, fosse em que oportunidade fosse. Abri-me, pois, ao caro superior como sempre o fiz com papai.

O mestre me olhou com carinho e compreensão. Fez-me ver que o que sentia não era pecaminoso ou errado. Muitos que ao seminário chegavam, depois de algum tempo acordavam para outros sentimentos que não o do celibato e da reclusão. No entanto, convida-me à oração e reflexão. Que permanecesse ainda o restante do ano em observação. Deixasse o tempo passar. Ao final do período em nova conversa decidiríamos, os dois, o melhor caminho a tomar.

Os dias foram rolando, devagar como carroça ladeira acima.

Agosto chegou e não deixei que terminasse. Pedi nova reunião. E expus minha vontade de partir.

Não houve oposição. Foi como se já se esperasse por este resultado. Só foi pedido tempo para uma troca de correspondência entre a Direção e papai.

Os valores necessários para a viagem chegaram com a resposta de papai.

Não obtive, como praxe, oportunidade para despedidas. Não podia ser o motivo ou estímulo a outras deserções. Muito menos pelos motivos supostamente aventados.

Voltei para o “mundo” no dia 5 de setembro de 1964.

Comigo acompanharam valores imensos. Dos Maristas tive a oportunidade de não só ter crescido como cristão, mas como verdadeiro cidadão, esta última virtude inseparável da primeira.

Não imaginava, no entanto, quanta influência teriam estes pouco menos de cinco anos em toda minha existência.
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Convite - por Maurício Limeira

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Minicontos “Volta” e “Lembrete”
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Conto “Uma noite com Paloma”
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O primeiro sorteio do blog
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O Adversário
Livro. Blog.
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Giuseppe Ghiaroni e o “Poema da Máquina de Escrever” - por Adir Vieira

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Mãe, se eu morrer de um repentino mal,
vende meus bens a bem dos meus credores:
a fantasia de festivas cores
que usei no derradeiro Carnaval.
Vende esse rádio que ganhei de prêmio
por um concurso num jornal do povo,
e aquele terno novo, ou quase novo,
com poucas manchas de café boêmio.
Vende também meus óculos antigos
que me davam uns ares inocentes.
Já não precisarei de duas lentes
para enxergar os corações amigos.
Vende, além das gravatas,
do chapéu, meus sapatos rangentes.
Sem ruído é mais provável que eu alcance o Céu
e logre penetrar despercebido.
Vende meu dente de ouro.
O Paraíso requer apenas a expressão do olhar.
Já não precisarei do meu sorriso
para um outro sorriso me enganar.
Vende meus olhos a um brechó qualquer
que os guarde numa loja poeirenta,
reluzindo na sombra pardacenta,
refletindo um semblante de mulher.
Vende tudo, ao findar a minha sorte,
libertando minha alma pensativa
para ninguém chorar a minha morte
sem realmente desejar que eu viva.
Pode vender meu próprio leito
e roupa para pagar àqueles a quem devo.
Sim, vende tudo, minha mãe,
mas poupa esta caduca máquina em que escrevo.
Mas poupa a minha amiga de horas mortas,
de teclas bambas, tique-taque incerto.
De ano em ano, manda-a ao conserto
e unta de azeite as suas peças tortas.
Vende todas as grandes pequenezas
que eram meu humílimo tesouro, mas não!
ainda que ofereçam ouro,
não venda o meu filtro de tristezas!
Quanta vez esta máquina afugenta
meus fantasmas da dúvida e do mal,
ela que é minha rude ferramenta,
o meu doce instrumento musical...
Bate rangendo, numa espécie de asma,
mas cada vez que bate é um grão de trigo.
Quando eu morrer, quem a levar consigo
há de levar consigo o meu fantasma.
Pois será para ela uma tortura sentir
nas bambas teclas solitárias
um bando de dez unhas usurárias
a datilografar uma fatura.
Deixa-a morrer também quando eu morrer;
deixa-a calar numa quietude extrema,
à espera do meu último poema
que as palavras não dão para fazer.
Conserva-a, minha mãe, no velho lar,
conservando os meus íntimos instantes,
e, nas noites de lua, não te espantes
quando as teclas baterem devagar.
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Visitem Adir Vieira
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Poesia Reflete a Alma - por Tércio Sthal

Do poeta e do mundo,
reflete, da vida, a calma,
e o abismo mais profundo,
a amplitude do cosmo
e o nada que o desarma.
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.............................................FotoPoesia
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(Sem Título) - (Anônimo)

Desejar luz imerso em treva
é acalentar o não quando sim
é dor que chega e versa
exigindo muito de mim.

É ter que lembrar de fé
quando derrotado se está
já esquecido de quem é
sem ter mais porque lutar

desejar que tudo se esgote
então enfim descansar
mas dor comigo não pode
desejo é me levantar

E quando erguida estiver
após a enxurrada do mal
recomece algo qualquer
pra ter a luz afinal.
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Sorte - por vestivermelho

Cresci ouvindo falar que chinelos ou sapatos virados com a sola para cima davam azar, tanto que sempre que vejo algum calçado virado tenho que desvirá-lo, mesmo sabendo que isto é pura superstição sem sentido.

Pés de coelho e ferraduras dão sorte?

Mas o que falar então da arruda...
Será o cheiro ou suas folhas meigas?
Azar ou sorte...

Tudo que acontece pode ser sorte ou azar. Depende do que vem depois. O que parece azar num momento, pode ser sorte no futuro.

Melhor nem comentar dos jogos...

Somente sei que tenho muita sorte ou azar... Oh, dúvida cruel!...
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Inspirado em Sortes, de Ana.
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Mutantis - por Ana

Ver uma estrela cadente
Encontrar um grande amor
Perdoar antes da morte
Na mega sena milhões
Sobreviver a acidente
Nascer em família feliz...

São coisas que vêm pra gente
- A cada um uma sorte -
Mudam tudo num repente
De formas tão diferentes...

Esperança, herança, dor,
Fé, sobrevida, grilhões,
Destino, filho, fuzis...
Bisturis que dão o corte.

Fatos que redefinem
A direção da estrada,
Sentimentos que permitem
Uma outra caminhada.

E a vida, tão mutável,
Não nos deixa acomodar
Naquilo que é bom ou ruim,
Está sempre a conclamar
Os homens p’ra novos sentidos
Que temos que acompanhar.
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domingo, 17 de outubro de 2010

Memória x Vida - por Alba Vieira


A memória é mesmo uma faca de dois gumes...
Garante usufruir, depois de já vividos, os momentos bons. Permite que tenhamos outra vez a alegria que experimentamos ao receber um sorriso, um afago, um olhar, uma ação favorável quando é despertada.
Mas, essa mesma capacidade de reter o que nos foi benéfico possibilita que não deixemos para trás as dificuldades. Se podemos nos lembrar dos erros, eles continuarão a nos pedir modificações, reparação e aprendizado. E é certo que isso tem as suas vantagens. Entretanto, nem sempre é possível reverter as falhas do passado e, nesse caso, a memória é um tormento constante, trazendo sofrimento.
Quantas vezes desejaríamos apagar da mente situações vivenciadas com desespero, que foram impostas por outro que, aproveitando a nossa fragilidade, nos atingiu? Tantas vezes experimentamos sensações ruins ligadas à memória de ocorrências que por tão traumáticas não podemos recuperar totalmente, mas cuja dor permanece viva em nós!
Às vezes, é possível pensar que é uma benção a deterioração da mente, apagando o conhecimento do passado tanto remoto quanto recente, criando um vácuo onde parece que a dor é menor. Mas, será que isso realmente ocorre? O que sobra quando a memória se esvai?
É cada vez mais comum a doença de Alzheimer. Mas, será que ela protege o seu portador do que pesa em sua existência ou rouba dele os momentos de glória, os aprendizados, as relações afetivas?
E na velhice que se estabelece naturalmente, quando esquecemos de fatos recentes, talvez sem muita importância no contexto geral, servindo-nos apenas numa atuação competente no presente e lembramos perfeitamente do passado remoto? Será que isso talvez proporcione um convite à reavaliação de nossa vida, com a possibilidade de maior compreensão dos fatos? Quem sabe seja interessante iniciar esse inventário aproveitando a chance que a natureza nos dá, antecipando a análise retrospectiva da vida que, inevitavelmente, seguirá a nossa morte.
Será que perder a memória é possibilidade de poder começar tudo outra vez? Apagar o quadro-negro da vida e reescrevê-la sem tantos erros? Mas, será que começamos realmente a nossa vida como uma tela em branco? Se assim fosse, como poderíamos aceitar a justiça de tantas diferenças entre os homens?
A memória é um bem precioso, mesmo que tantas vezes acabemos deturpando seus conteúdos por pura incapacidade de lidar com a realidade. É uma ferramenta incrível que nos permite acessar a nossa vida e fomentar o auto-conhecimento.
E, se o sentido da vida é experimentar no plano material para aprender e evoluir, é imperativo que ao longo da caminhada possamos fazer um balanço do que já foi vivido. E se evoluir implica em transformação, essa será mais proveitosa quanto maior o conhecimento que tivermos de nós mesmos.
Mas... não basta lembrar. É preciso meditar para entender. E a compreensão dos fatos e das pessoas traz a aceitação da realidade. O conhecimento da realidade nos permite tomar nas nossas mãos as rédeas da nossa vida, uma vez que, no íntimo, cada um de nós sabe exatamente ao que veio nessa existência. Assim, será possível corrigir a rota, caso esta esteja alterada por força das circunstâncias, da nossa incapacidade momentânea ou reincidente de trilhar o caminho pretendido, previamente acordado.
Meditar, ir para dentro de si mesmo é também mergulhar nas profundezas da mente, podendo ter contato com memórias ancestrais. O conhecimento de memórias de vidas passadas muitas vezes nos permite montar o quebra-cabeça que dá sentido a essa vida e corrobora com os aprendizados.
Parece que é preferível lembrar-se, mesmo que isso nos traga dor, porque se ela de fato existe, é melhor ter a consciência a sofrer as consequências da presença do seu fantasma, eternamente a nos espantar. Entretanto, é importante respeitar as possibilidades de cada um, em cada momento. E buscar ajuda para lidar com os conteúdos de memórias perturbadoras é, muitas vezes, imprescindível. Conscientizar permite ressignificar e livrar da dor aquele que o faz.
Memória é vida. E, se a consciência sobrevive, estamos vivos para sempre, mesmo após a morte do corpo físico.
E, mesmo que na vida física a memória se deteriore, ela certamente se recupera na vida do espírito, já que a vida é eterna.
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Imagem: Pintura “Segredo”, de Alba Vieira.
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Visitem Alba Vieira
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Micro - por Leo Santos

Quem és pequeno ser,
chegas mesmo a ser,
ou é acinte o que propus?

Dizes pertencer à natureza,
mas, desafinas de sua pureza,
não vês como ela caminha pra luz?

Se és mesmo seu produto,
porque andas tão poluto
ao invés, de lha fazer jus?

Vives nas chagas do planeta,
rasgos de sua baioneta,
feridas que não se cura;

Ainda que tanto te ufanas,
não se avexa de só fazer da cana,
álcool, em prejuízo da doçura.

E agora que tapastes o sol,
laboras, do artifício em prol,
ocultando tua noite escura.

Sua presunção encerra,
o ter ido ao quintal da terra,
pensando dominar o espaço;

Constróis vastos mirantes,
estudas estrelas distantes,
seguindo-as, passo a passo;

A teus pés, estrelas se apagam,
mas numa última chispa indagam,
quem és, pequeno fracasso…?
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Visitem Leo Santos
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Separação - por Marília Abduani

O corte na esperança
rompeu o dia.
Devagar os olhos fecham-se
estáticos.

A névoa da ausência desfez os laços
lassos que se divergem,
isolam- se
no exílio do pranto.

O grito na noite
acorda a saudade.
Insônia.
Mais nada.
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Tentativas - por Ana

Queria te dizer palavras
Que não soassem clichês.
Queria te fazer perguntas
Que não contivessem “por que?”.
Queria viver nosso amor
Por anos antes de morrer.
Queria chorar nossa dor
Em versos lindos de dizer.

Mas... inspiração limitada,
Poetisa malformada,
Escritora fracassada,
Deixo linhas mal traçadas

Que dizem do meu amor
Que lateja sem pudor,
Que falam de nossa dor
Que sonha com o esplendor,
Que vivem em um ardor
Que agoniza em estupor,
Que choram sem um rumor,
Qual vela no toucador.
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Cretinices - por Fatinha

Querido Brógui:

Essa edição é em homenagem a nós, professores, e à nossa árdua batalha no dia-a-dia. Não é inédita, aliás, pra falar a verdade, nem requentada mesmo é. Digamos que ela é “trequentada”. Ela é datada de 2002, não havia nem ainda o “Querido Diário” e, quando ele nasceu, eu requentei. Sendo assim, é a terceira vez que empurro o mesmo texto pela sua goela abaixo e ele ainda é, seis anos depois, a fiel, pura e cruel realidade de meu alunado.
Lá vai:

“Querido Diário:

Neguinho fica por aí espalhando que essa humilde e simpática professora de História é grossa, que é malcriada, que tem tolerância zero. Já me disseram que eu rosno e que meu olhar irado congela qualquer criatura num raio de cem metros.
Após o meu relato, diga sinceramente se a cretinice do alunado tem limites. Se você não é professor ou nunca teve contato com crianças, atire a primeira pedra.

Cretinice 1
Sete horas da manhã, cara inchada, ainda com cheiro de travesseiro, chegando ao meu local de trabalho, sabendo que vou ter que encarar dúzias de adolescentes e pré-adolescentes e crianças e colegas etc., etc., etc.
“A senhora vai dar aula?”
“Não, eu não vou dar aula, só vim aqui porque acordei às cinco e meia da manhã e como não tinha nada melhor pra fazer eu vim aqui passear e ver se você estava bem de saúde.”

Cretinice 2
Mesmo contexto.
"A senhora veio?”
“Não, eu não vim. O que você está vendo é um holograma, está tendo uma visão do inferno, você está sonhando e tendo um pesadelo.”

Cretinice 3
Mesmo contexto.
“Por que a senhora veio?”
“Por que você veio?”

Cretinice 4
Dia de prova.
“Professora, eu não assisti a nenhuma aula da senhora. O que eu escrevo na prova?”
“Seu nome. E vê se põe letra maiúscula.”

Cretinice 5
O trabalho é para ser feito em folha separada para que eles me entreguem no final da aula.
“Precisa colocar o nome e a turma?”
“Não. Ontem comprei pilhas novas pra minha bola de cristal.”

Cretinice 6
Seis meses depois de iniciado o ano letivo, o aluno pergunta:
“Qual é mesmo a matéria que a senhora ensina?”
“Grego arcaico.”

Cretinice 7
Acabo de passar um exercício no quadro.
“É pra copiar?”
“Não. É que eu estava com vontade de me sujar toda de giz, cheirar um pouquinho de pó e ficar com câimbra no braço.”

Cretinice 8
Continuando a cretinice nº 7, o aluno copia tudinho.
“É pra fazer?”
“Não. Leva pra casa que sua mãe responde pra você.”

Cretinice 9
Já em desespero, com a bexiga quase explodindo, pego a bolsa e aviso que vou descer.
“A senhora vai pra casa?”
“Não. Vou usar o banheiro aqui da escola mesmo.”

Cretinice 10
Dando continuidade, provando minha tese que cretinice não tem limites, o aluno retruca:
“Vai fazer o quê?”
“Brincar de amarelinha.”

Está com pena dos alunos? Tá achando que sou demasiadamente cruel, irônica, debochada e deseducadora? Pois você não entende nada de educação.
Passados alguns meses nessa salutar convivência, ao ouvir perguntas cretinas, apenas digo em voz baixa e com um sorriso sarcástico nos lábios: “É pra eu responder ou se trata de uma pergunta meramente retórica?” E o aluno, que é cretino, mas não é burro, rapidamente responde: “É meramente retórica.”
Viu? Eles sabem o que é retórica. Sou ou não sou uma professora de mão cheia?

Esse texto é dedicado à Michelle, minha ex-aluna, futura professora, provando que ainda há almas a serem salvas nesse mar de cretinice e que, por essa almas, vale o sacrifício.
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Postado, originalmente, em 17/10/2008.
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Visitem Fatinha
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Parabéns, Professores! - por Adir Vieira

Hoje é um dia importante, que devemos festejar,
pois todo mundo na vida teve um mestre a lhe ensinar.
Eu mesma, que sou de um tempo
em que mestre não era tia,
fico aqui, hoje, a pensar, como se mudou esse dia...
Professora, quem não lembra
da sua primeira, aquela,
que com sua mão na dela,
ajudou a formar os “as”.
Hoje, as coisas são outras, vamos prá escola brincar.
Artes, ginástica olímpica, tocar instrumentos, rezar
- dependendo da escola -
são mais importantes que ler, escrever certo, pensar...
Hoje, pobres professoras, com tanta psicologia,
com tantos direitos humanos,
deixaram de ser aquela
a quem reverenciamos.
Pobres dos jovens de hoje que,
quando o tempo passar, não saberão qual a “tia”
que na memória terão, com a globalização.
Talvez tudo tenha mudado,
embora as crianças também, mas
o que importa hoje é darmos parabéns.
Vamos parabenizar a todas, as de ontem, as de hoje,
sabendo sempre que elas, uma ou quatro na turma,
desejam para nós o saber.
Dedicadas sei que são, pois, com tantas dificuldades,
ainda existem aquelas que ensinam, além do projeto.
Mesmo com computador, pesquisas e tudo o mais,
sempre uma novidade vai caber a elas ensinar.
Parabéns mestres, tias, professoras,
chame quem quiser a seu modo,
recebam o nosso carinho e nosso reconhecimento.
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.................................................Visitem Adir Vieira
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Não Adianta Plástica - por Poty

Nada adianta se não te faz bem,
Nada adianta se tua morada interior não se encontra bem,
Se você não se sente segura para seguir a vida.
Quando a plástica recobre os defeitos externos e encobre os internos,
Para quê uma boa estética se a ética encontra-se desmoronando?
Se quiseres fazer, que faças, mas seja num ato de reconciliação do corpo com suas energias.
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Visitem Poty
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A Marcha dos Palhaços - por Tércio Sthal

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Mas depois de iludir a massa..................................................
a cada um deles irão perguntar:..................................................
quanto você quer..................................................
pra deixar de fazer sua graça?..................................................
(Tércio Sthal)..................................................
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Ordinários, marchem:
Isto é uma ordem!
A lei não permite fazer graça
nos programas humorísticos,
mas admite que se faça
no programa eleitoral gratuito.

Palhaços, marchemos:
Até Alta Corte iremos!
Pelo direito de fazer graça
nos programas humorísticos,
e que a democracia se faça
presente nos horários políticos.

Sejam, pois, iguais os direitos
de todos os candidatos,
e, independente dos trejeitos,
o voto eleja, de fato,
quem tenha a ficha limpa
e não mascare os próprios feitos.

E nós, todos os palhaços,
a invadir todos os espaços,
não venderemos nossa alma,
ganharemos, do povo, palmas,
faremos o povo rir e cantar,
ao invés de sofrer e chorar.
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Visitem Tércio Sthal
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Um Convite: - por Paulo Tamburro

No meu blog humor, “HUMOR EM TEXTO”, a crônica desta semana é:
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“TENTANDO EXPLICAR OS SENTIMENTOS: HOMEM E MULHER”
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Eis um pequeno trecho:

“Temos procurado através de intensas pesquisas teóricas, e muito mais práticas, compreender melhor as múltiplas possibilidades que podem ter um homem e uma mulher nos eventos de prazer da sexualidade, quanto aos seus comportamentos, atitudes, emoções e as suas sutis e históricas diferenças.

É tudo muito complexo!”

Tenho certeza de que seu comentário será muito útil para compreendermos melhor esta eterna procura do homem e da mulher.

Um abração carioca!
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Anjo P - (Anônimo)

Você é minha filhinha bonitinha
te amo de paixão
você é não sei mais o quê...
Faz arroz com feijão

Minha filhinha bonitinha
te amo de paixão
você é só minha garotinha
só pra você é meu coração

Não fala que fui eu que fiz
diz que foi você que criou
diz que fez porque quis
e que em mim se inspirou
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Preguiça - por vestivermelho

hoje percebi que estou muito cansada, nem estou querendo pensar...
crise brava de muitas coisas para fazer e sem tempo de parar e escrever, ler ou mesmo visitar os amigos...
fico aqui quieta. A expressão mais exata é que estou jiboiando rsrs... olhando, esperando para dar o bote... vou esperar mais um pouco, quem sabe aparece algo interessante... se não, vou deitar e apagar. dormir... sei lá quanto...

desabafo de vestitristonha
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domingo, 10 de outubro de 2010

Exumação e Transmutação da Dor - por Alba Vieira

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Pintura “Reino de Hades”, de Alba Vieira.
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Tudo se resume e termina numa pequena caixa. Uma caixa simples que guarda o sagrado. O tesouro que foi a estrutura de uma vida. A perfeição para sempre guardada, até que mesmo ela seja destruída pelo tempo e se transforme em pó.
Mas há algo além da caixa. Algo que jamais se extingue. Que é luz e se expande e evolui. A essência que sobrevive ao tempo, uma vez que não segue suas leis. A essência que concentra os perfumes de todas as existências. E, se chega perto dos bem-aventurados, inunda de perfume doce e suave, inconfundível para aqueles que estão ligados pelos laços do amor.
Parece contraditório que o homem se reduza com a morte, que esta simbolize perda e destruição. Muitos procuram defender-se negando seus rituais, afastando-se das práticas a ela relacionadas. Entretanto, para olhos que perscrutam, tudo é sublime e traz elevação.
Para aqueles que enterram seus mortos, o funeral se justifica quando o corpo é exposto para que seja testemunha da finitude da vida, da igualdade entre todos os homens quando chega o derradeiro sopro de vida. Depois, o corpo na urna é resguardado dos olhos que sem isso, assistiriam à sua decomposição, uma vez que a matéria é perecível. Assim protegido, o corpo, sagrado para aqueles que o amaram, é cuidado, vestido, enfeitado e lacrado para que possa descer à profundidade da terra que o acolhe e colabora com a ação do tempo.
Então, no processo de decomposição que segue nos próximos anos, as emoções se acomodam e família e amigos aceitam sua ausência, enquanto tentam e por fim conseguem simbolizá-lo no fundo de seus corações.
Mas, como existe por parte dos homens, de muitos dos homens, alguma resistência em aceitar a morte como natural, vem a necessidade de desenterrar aquele corpo para que, em seu lugar, outro possa ser acolhido, dando início ao mesmo processo.
E dizem alguns que a exumação é algo horroroso, indigno dos olhos que amaram aquele que se foi. Mas, de fato não é. É sim mais uma oportunidade de enxergar além das evidências e melhor aceitar a verdade suprema e reverenciar a lei da natureza.
Assim, quando pessoas comuns realizam este ritual sagrado, mexendo num corpo que não conheceram, na pessoa que não amaram, permitem que entendamos que somos todos iguais, todos irmãos, que devemos amar ao próximo sem que para isso existam laços de família ou amizade.
E quando aquelas mãos retiram os restos do caixão destruído pela ação da terra, os coveiros comportam-se como garimpeiros que buscam o ouro, os ossos daquele que nos é tão caro. E procuram e separam da terra e dos despojos todos os ossos, longos e pequeninos, que juntos compuseram a estrutura daquele ser e que agora, separados como numa caixa que contém um quebra-cabeças, simbolizam o que restou da pessoa amada.
E reúnem os ossos de forma tão respeitosa, lavam e limpam com as próprias mãos o que de mais profundo existia naquele ser material. E os ossos são guardados na caixa, uma pequena caixa que contém a grandiosidade daquele que para nós era tudo.
Não existe nada de feio, nada de deplorável. É a lei da vida. É a vontade de ter ainda perto o objeto do nosso amor.
E quando valorizamos aqueles que o destino escolheu para participar do nosso ritual sagrado, estamos mais perto de entender a transitoriedade de todas as coisas e o consolo que existe nisso.
E então depositamos esta pequena urna num nicho que protegerá aquele tesouro a que renderemos nossas homenagens até que possamos exercitar o desapego e transferir para a essência luminosa o nosso amor.
Isto acalma os corações que amam e que se permitem acompanhar até o fim a trajetória dos que lhe são caros até que num outro plano haja um reencontro tão esperado, coroado pela paz que enfim se estabelece.
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Visitem Alba Vieira
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(Sem Título) - por Leo Santos

Se Jobim já cantou as “águas de março”
o que faço, passo ou me jogo ao plágio?
Ora, a democracia já ungiu tantos tiranos,
olvidamos, vamos ao sufrágio.
Se da calma à geada devo rumar,
como passar, sem o pedágio?
Se chegou o tempo, da vida frutificar,
viventes, vamos lá, ao grato contágio!
A vida madura, qual sumo que dá,
qualquer um dirá, se passa esse estágio.
Mas nem todos frutificam,
ante à virtude claudicam,
usurários, vivendo de ágio.
Todavia as almas nobres,
geram saciando aos pobres,
dar, eis, seu apanágio...
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Visitem Leo Santos
.Tom Jobim

Divindade - por Marília Abduani

Eu não amo o teu cérebro, nem o corpo,
nem o teu beijo que me faz dançar.
Se, para mim, tudo que é vivo, é morto,
o que faz rir é o que me faz chorar.

Eu não desejo o teu abrigo torto,
nem teu sorriso ou tua divindade.
Se, para mim, o que muito, é pouco,
o que traz paz é o que me causa alarde.

Punhal bravo dentro em mim se aninha
e, se é de treva a luz que me avizinha,
eu só te quero como distração.

Eu não amo nada mais que o teu reflexo
e só te entendo como um ser perplexo
ante a minha inabalável solidão.
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Affonso Romano de Sant’Anna, “Quando os Amantes Dormem” - Citado por Penélope Charmosa

Quando as pessoas se amam e querem se amar, selam um pacto: dormir juntas.
E quando se fala “dormir juntos”, o sentido é duplo: significa primeiro amar acordado em plena vigília da carne, mas, depois, na lassidão do pós-gozo, deixar os corpos lado a lado, à deriva, dormindo, talvez.
Na verdade, os amantes, quando são amantes mesmo, mesmo enquanto dormem se amam.
Agora ouço esses versos de Aragón cantados por Ferat: “Durante o tempo que você quiser Nós dormiremos juntos”.
E penso. É um projeto de vida, dormir juntos, continuamente.
A mesma ambiguidade: dormir/amar juntos, dormir/acordar juntos, ou então, dormir/morrer de amor juntos.
Deve ser por causa disto que os franceses chamam o orgasmo de “pequena morte”.
Deve ser por isto que os amantes julgam poder continuar amando mesmo através da morte, como Inês de Castro e D. Pedro, que foram sepultados um diante do outro, para que no dia do reencontro um seja o primeiro que o outro veja.
Amor: um projeto de vida, um projeto de morte.
Se numa noite dessas o vento da insônia soprar em suas frestas, repare no corpo dormindo despojado ao seu lado.
Ver o outro dormir é negócio de muita responsabilidade. Mais que ver as águas de um rio represado gerando uma usina de sonhos, é ver uma semente na noite pedindo um guardião. Pode ser banal, mas é isto: amar é ser o guardião do sonho alheio.
Os surrealistas diziam: o poeta enquanto dorme trabalha. Pois os amantes enquanto dormem, se amam.
Se amam inconscientemente, quando seus desejos enlaçam raízes e seivas. O pé de um toca o pé do outro, a mão espalmada corre sobre o lençol e toca o corpo alheio e, dormindo, se abraçam animados. Quando isso ocorre, pode ter vários significados.
Talvez um tenha lançado um apelo silencioso ao outro: “Ajude-me a atravessar esse sonho”, ou: “Venha, sonhe esse sonho comigo, é bonito demais”. E o outro, às vezes, sem se mexer, parte em seu socorro.
É que certos sonhos, sobretudo os de quem ama, não cabem num só corpo. Transbordam os poros da noite e pedem cumplicidade.
E se há um pesadelo, aí um se agarra ao tronco do outro na crispação do instante, e o corpo do parceiro é boia na escuridão.
Por isto, no ritual do casamento, quando o sacerdote indaga se os que se amam sabem que terão que se socorrer na saúde e na doença, na opulência e na miséria etc. deveria se inserir um tópico a mais e advertir: ...Amar é ser cúmplice do sonho alheio.
Sim, porque passamos a metade da vida dormindo ao lado do outro. Há pessoas que vivem 25 anos - bodas de prata, 50 anos - bodas de ouro, 75 anos - bodas de diamante - ao lado do outro, e não sabem com que o outro sonha. E há quem passe uma tarde, uma noite ou uma temporada ao lado de um corpo e sabe seus sonhos para sempre.
Engana-se quem escuta o silêncio no quarto dos que amam.
Estranhos rumores percorrem o sonho alheio. Não é o rugir do tigre pelas brenhas. Não é o bater das ondas na enseada. Nem os pássaros perfurando a madrugada... São os sonhos dos amantes em plena elaboração. E se numa noite dessas o vento da insônia de novo soprar em suas frestas, olhe pela janela os muitos apartamentos onde pulsam dormindo os amorosos.
Quando se compra um apartamento novo, nas alturas, alguns compram lunetas e ficam vasculhando a vida alheia. Mas para ouvir o ruído dos sonhos basta abrir os ouvidos na escuridão. Os sonhos pulsam na madrugada.
Era uma vez um chinês que toda vez que sonhava com sua amada acordava perfumado. Deve ser por isso que, ainda hoje, o quarto dos amantes amanhece com um perfume de almíscar, lavanda e alfazema. E é comum achar troféus dos sonhos ao pé da cama de quem ama. Quando se abre a pálpebra do dia, aí pode-se ver um unicórnio de ouro e uma coroa de rubis.
À noite os sonhos dos amantes se cristalizam e de dia se liquefazem em beijos e lágrimas. Quem ama diz boa noite como quem abre/fecha a porta de um jardim.
Não apenas como quem viaja, mas como quem vai para a colheita.
Quando se ama, acontece de um habitar o sonho do outro, e fecundá-lo.
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Um Brinde - por Priscila Conrado

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À vida feita de desencontros,
Aos insólidos destinos
À felicidade dos outros
À inocência dos meninos

Aos livros não lidos
Às fotos queimadas
A falsos sorrisos
A vidas por mim rasuradas.
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As Inconstantes Dúvidas! - por Thiago de Sá

Tem hora que quero ser herói,
Tem dias que prefiro ser vilão.
Às vezes me agrada o céu azul,
Existem momentos que desejo o cinza da tempestade.
Ou negrume noturno me encanta os olhos,
De repente me vejo preso em uma ponte,
Admirando o pôr do sol,
Com a mente nostálgica.
Sou todo completo na incompleta forma que sou.
Admiro nos dias a força que não tenho.
Perco-me nos sorrisos que encontro.
Sorrisos que me dizem mais do que quero saber.
Ou menos do que deveria olhar!
Idas e voltas, encontro-me e perco-me.
Sou teu, sou meu, sou nada e sou tudo.
“Quem sabe só você pra trazer o que já é meu.”
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Para E’le - por S. Ribeiro

Querido, tu vieste com a ferrugem. Me forço a escrever, porque assim traço tua lembrança. Mas preciso imediatamente desenhar meu caminho, que de teus braços para a rua, venho tomando imensa consciência de mim mesmo. Enfim, dentro de um palmo de distância, consegui ver a eternidade. O Sempre constrói sentidos razoáveis em mim. Ando desgraçado e mais perto de searas divinas. É uma oportunidade. Não te esqueço visto que teu cheiro reencarna em todo objeto.

Já não posso mais perceber as marcas de um abraço, que’u guardo como um morto que não pode levar riquezas no túmulo. Te quero porque sou jovem e talvez não mereça outra vida além desta, agora cheia de ti. E o vento nada de palavras leva. Ele carrega tuas coisas, nossas costas, ele sequer nos espera. E termino te dizendo: caso não possas me querer como eu te tenho, aloja com respeito minhas lembranças, que hoje conheço o que chamam paixão, e não poderás me visitar em uma prisão como essa.

as pessoas que não pensam não amam. é irrefutável.
(Sylvia Beirute, Dia de Chuva)
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Stop Crying Your Heart Out - por Lu Aline

Pelo sopro de vento que deixou de bater
Pela vontade de sentir
Pelos sonhos acumulados
Verdades inventadas,
histórias mal-acabadas
Pelos pecados desperdiçados
Por decidir não ir
Pelo tempo a correr
Por tudo aquilo que não foi mais
Por mais... mais...
Que tudo se faça vivo
E vivendo, que seja eterno
em cada milésimo de segundo
de seu breve existir...
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(Sem Título) - (Anônimo)

Da menina que me recordo,
trazia consigo imaginação
hoje de repente acordo:
- Não deveria existir não.

Nunca foi menina doce
tampouco meiga ela foi
desejava que na vida fosse
o carro na frente do boi

que vida à menina coube?
Ou que foi que esta lhe fez?
Agarrar-se à sorte não soube
porque abandonou sensatez.

Cismou que na vida valia
mais que tudo suas ideias
quis formar uma família
ignorando as alcatéias

foi então que aí viu
o que nunca enxergava
tanto lobo, e não fugiu
estava toda amarrada

era ela objeto da caça
pra fome da covardia
seu sorriso já sem graça
mas a coragem persistia

faltava-lhe era apetite
de tanta fome que havia
mas alguém teve o palpite
que um anjo lhe serviria

servido foi o desjejum
e veio por outra menina.
- Não permitirei de modo algum
que escravizem a pequenina!

Caíram no escuro sombrio
e de repente apareceu então
quando a vida lhes deu frio,
estendida de outro anjo a mão

esse outro veio com par
e construíram solução
pras meninas que sem lar
já não tinham mais visão

não viam a luz do dia
não sentiam mais sabor
perguntavam: e a família?
Suas almas eram só dor.

O par de anjos as via
com olho bem protetor
ensinou-as que há família
onde o que existe é amor.

E é para esses bons anjos
que as meninas olham agora
pensam: como, por tantos anos
vimos a vida jogada fora?

E elas começaram a lutar
contra o que não sabem ainda
já não vão mais se sabotar
nascem agora as meninas!

E o que aquela começou
agora com prece termina
pros anjos que deus enviou
pede muita paz a menina.

Obrigada ao anjo A!
Mais ainda, anjo ABC!
E a ti, outra menina,
meu pequeno anjo D!

Assim formo meu alfabeto
meu fraterno vocabulário
e falo hoje de peito aberto:
o capeta agora é o otário!
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Sortes - por Ana

A sorte põe e dispõe,
Seja destino ou não-azar.
Há dois lados na moeda:
Alegrar e agonizar.

A sorte, fiel escudeira,
A sorte que vem assombrar;
Às vezes, uma boa estrela,
Por vezes nos põe a chorar.

Seja uma ou seja outra,
Há-de haver serenidade,
Para que os seus efeitos
Não nos afetem a integridade.

Cuidado com os filhos de uma:
Arrogância, soberba, poder...
E com os frutos da outra:
Depressão, tristeza, sofrer...

Se a primeira sorte lhe cabe,
Ajoelhe-se a agradecer;
Se a segunda sorte lhe ocorre,
Use-a p’ra amadurecer!
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Ensina a Criança - por Tércio Sthal

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No caminho em deve andar.....................................................................
e até quando for velho.....................................................................
não se esquecerá dele......................................................................
(Bíblia Sagrada).....................................................................
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É preciso ensinar
a criança a brincar,
a conhecer as regras
e as cumprir,
sem burlar,
sem infringir,
a perder e a ganhar.

Mas não adianta só falar,
mais importante é agir,
bom exemplo ofertar
pra que ela possa seguir.
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Amor - por Yuri Silva

hoje acordei coberto de sangue frio
mas eu estava apenas sonhando
hoje acordei coberto de água fria sobre minha cabeça
mas eu estava apenas sonhando
hoje acordei coberto de fogo, e eu não podia ver
mas eu estava apenas sonhando
e você continuava a me regar de amor...
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Teu Amor nos Basta, Senhor - por Raquel Aiuendi

Ao ler o Salmo 93, me veio esse texto à cabeça e eu registrei, agora transcrevo pra vocês:
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É verdade, meu Paizinho, a minha história se descortina do início para adiante; vejo o Teu Amor semeado e florescendo nela, Luz no caminho e Paz. Vejo também, Senhor, a história dos homens descortinada e repetitiva exposta: lutas, derrotas e caos. Vejo Teu Poder paralisando o caos e dando movimento a Tua obra; vislumbro infinidade para os que aceitaram a Tua Lei como Verdade, Teu Amor como princípio, veículo e objetivo final de vida. Vejo vida abundante em/de Teu Amor. Segurança no Teu Amor, Paz no Teu Amor, Livramento do mal (como agente e vítima) no Teu Amor é a Verdade que vem através dos sentidos, sentimentos e lógica. Orando e vigiando: desejando ao meu próximo o que desejo a mim e amando-Te acima de tudo existente. Onde devo por meu coração, ali devo repousar eternamente, desde então no Senhor quero repousar minha existência. O Teu Amor é, apenas e tão infinitamente e poderosamente: é. Nele tudo se anula, somando-se. Nele, tudo é: por ausência de nossos egos e presença de Teu Espírito. Senhor, em Ti busco minha missão, em Ti busco-Te, a Ti entrego-me sempre. Vejo a fome devastar almas carentes e ignorantes de Ti; vejo o abismo entrando por retinas e ficando retido nas almas e lágrimas que não lavam e, sim, inundam e afogam almas; vejo a luta por chão, por teto, por ar... e um nunca saciar e um usufruto desfrutável daqueles que deles se apossam. No Amor toda a Criação Te pertence, não somos donos, pois não somos de fato: eternamente nos fazemos, eternamente, pois eterno é o tempo que nossos olhares não alcançam, não enxergam, mas vislumbram em imaginada sensação de evolução. Vejo o saque a toda expressão do Teu Amor, o saque à Criação e, de tudo, o saque que escandaliza os pequeninos, que corrompe a inocência em seu estado mais latente e que vira arma contra seu agressor e contra uma sociedade inteira. Vejo a corrupção atingindo níveis estruturais das existências e disseminando a sensação crescente da incerteza de Teu Poder ou busca de Teu Poder como ancorador e não processador de transformação. Por isso mesmo, vejo a angústia expressa por trás dos escudos consumistas, vejo trapos por trás de marcas, patentes que se valem de mais e menos valia dos homens de bem que, nesse terreno, muitas vezes, se equalizam (menos valia) aos outros se travestindo da exploração à qual servem em contraposição do louvor que pensam direcionar-Te. Vejo... Nada vejo, não é por mim que vejo. Sim, meu Pai, por revelação de Teu Amor é que vejo e posso entender que todos esses relatos são níveis pormenorizados da vida sem Teu Amor, são expressões consequentes da ilusão e da exploração que imperam num mundo que se restringe e se consome ao/no mater. Pai, minha jovem alma, que se alegra em Ti e encontra no Teu colo amparo e segurança consoladores, recebeu de Ti olhar milenar para amadurecer sem nunca apodrecer. Agradeço-Te por todo o Teu Amor entregando-me ao aprendizado de amá-lo mais e mais. Muita Paz para todos e que Deus ilumine seus caminhos.
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