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Eróticos.)




sexta-feira, 30 de março de 2012

Ana Cristina Cruz Cesar e sua "Contagem Regressiva" - enviada por Poty


Ana Cristina Cruz Cesar


Acreditei que se amasse de novo

esqueceria outros

pelo menos três ou quatro rostos que amei

Num delírio de arquivística

organizei a memória em alfabetos

como quem conta carneiros e amansa

no entanto flanco aberto não esqueço

e amo em ti os outros rostos
.
.

terça-feira, 27 de março de 2012

As Nossas Palavras III - por Ana

As Nossas Palavras III...
Estou uma agonia só:
Ainda me sinto insegura,
A barriga deu um nó!

São as palavras de hoje:
preferimos sempre vida
trabalho faz obsoleta
.
O Adhemar não dá guarida...

Incluir obsoleta?!!!!
Gente! Isso dificulta!
Eu não sou assim... um Leo...
Sou leiga, eu não sou culta.

Porque muitos de nós preferimos,
Nesta vida de tantas opções,
Secundarizar o trabalho,
Priorizar as diversões...

E foi isto o que eu fiz
Em relação ao português:
Não me esforcei pra dominá-lo...
São testemunhas vocês.

Por isso é que sempre escrevo
Bobagens que não têm fim,
Um monte de besteirinhas,
Até eu rio de mim...

Sei que isso não está certo,
Sei que isto não se faz:
Deixar de lado a língua-mãe
De maneira contumaz.

Mas eu prefiro viver
Sem me aprisionar às letras.
Por consequência, minha escrita
Vai ficando obsoleta...
.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Estou Lendo... - por Alba Vieira



Tudo pelo Melhor, de Gasparetto
.
.

A Grande Árvore - por ZziperR


A grande árvore

Certo dia a grande árvore de flores amarelas decidiu derrubar as suas flores. Ela cansou da sua cor e queria ser diferente, mas como uma árvore poderia mudar a sua aparência.

Na vida tudo é um equilíbrio, desta maneira, quando perdemos com certeza também estamos ganhando, basta analisar com bastante atenção e chegaremos à conclusão do que ganhamos, ou seja, existe um lado bom de tudo que acontece conosco.

As flores caiam da grande árvore forrando o chão de amarelo e formando um cenário maravilhoso, um tapete natural de flores amarelas que as formigas aproveitavam e levavam para o formigueiro se alimentar.

Bom para as formigas, ruim para as abelhas que sem alimento perdem o interesse e não visitam mais a grande árvore, que sem as abelhas não polemiza e quebra a cadeia alimentar, também quebrando o ciclo de reprodução da própria árvore.

Muitos pássaros deixaram de visitar a grande árvore por falta de flores e ela vivia solitária sentindo a falta deles, que nem ninhos faziam mais em seus galhos.

Agora a grande árvore está verde e sem flores, apenas com folhas, mas não está feliz, pois lhe faltam perfume e atração. Tanto que, sem o encanto e a beleza das flores ela se tornou uma simples árvore. Antes ela era um Ipê amarelo, agora é apenas uma árvore sem flores.

Os dias passavam e com eles as noites solitárias também, numa dessas noites, um casal de namorados que gostava de correr, se enfeitar, rolar e fazer poesias de amor enfeitiçados e seduzidos pela paixão daquele grande tapete mágico de flores amarelas perdeu sua grande motivação de inspiração, que eram aquelas lindas flores amareladas se misturando aos mistérios da lua romântica. Eles caminharam de mãos dadas até o pé da grande árvore e ficaram tristes ao vê-la sem flores. A garota abraçou a amiga e perguntou:

- O que está acontecendo com você grande árvore, que tem as flores mais lindas e perfumadas do bosque?

A garota ficou abraçada à árvore consolando-a com palavras carinhosas, fazendo carinho com as mãos em seu tronco e pedindo para ela trazer suas lindas flores amarelas novamente e permaneceu abraçada à amiga um bom tempo.

O calor e o carinho da garota tocaram o coração da árvore com tanta intensidade, que naquele momento já começou a soltar botões de flores.

Logo a vida e a alegria retornaram aos seus troncos com pássaros felizes buscando os melhores galhos e as abelhas já fuçavam nas flores. Ela soltou tantas flores que o gramado ficou amarelo e no meio das flores estava o casal de namorados felizes.

O cheiro de amor exalava das flores, do casal, dos pássaros e das abelhas, todos enfeitados de amarelo e felizes com as flores da grande árvore.


Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes

imagens...google imagens

quinta-feira, 22 de março de 2012

A Bolha e o Mundo - por ZziperR


A bolha e o mundo

As meninas brincando de amarelinha e eu olhando com meus olhos de criança. Engraçado como uma simples lembrança comprando figurinhas não me abandona e eu não consegui completar o meu álbum. Coisa de criança ou adulto enganando a criança pra tomar o seu dinheiro? Melhor nem pensar.

Às vezes me pergunto meditando: Quando será que nós deixamos de ser criança? Logo depois passo um olhar rapineiro no mundo observando as atitudes dos adultos e vejo pelos seus atos infantis propositais uma falta de limites e consciência, banalizando o verdadeiro sentido da família e destruindo o verdadeiro sentido de exemplo cultural que uma geração obrigatoriamente deveria passar à outra. O sentido da vida perdeu seu valor.

A velocidade da vida atual transformou o mundo numa bola sem arte, tirando o dom da arte de criar brincadeiras das crianças, tornando-os adultos sem lembranças de como é ser criança.

Olhando para trás vejo momentos felizes e tudo parece um sonho gravado na minha memória, engraçado como a vida caminha lentamente dando-nos tempo e espaço para pensar com tranquilidade e mesmo assim tudo parece passar tão rápido.

Incrível como tudo começa num momento mágico do nosso nascimento confortado ao seio da mãe, mesmo que quiséssemos seria impossível traduzir ou expressar tal prazer. Um momento no qual fomos o presente de Deus.

Como falar de presente divino sem nos referir à vida! A vida que nos foi dada de presente num sopro celestial milagroso proporcionado por um ato de amor.

O tempo passa e é o grande cirurgião do corpo, ele atua constantemente transformando o nosso corpo, porém é incapaz de modificar nossa alma, um espaço invisível no nosso corpo onde deus instalou o amor e é lá que guardamos com carinho as pessoas que amamos.

Hoje o mundo é uma bola capitalista e a nossa infância uma bolha de sabão e toda vez que eu faço uma bolha de sabão, me vejo num passado gostoso, às vezes em grupos com tubos na mão atirando canudos de papel, exigindo habilidade e criatividade para conseguir perfurar folhas do grande abacateiro da praça.

Falando em pessoas especiais lembrei-me de você voando nas bolhas de sabão da minha memória. Vejo você na bolha e corro atrás tentando me aproximar para ficar um pouquinho perto de você, a bolha voa pelos campos te levando e eu correndo para te ver e quando me aproximo a bolha explode e eu te perco, apenas sinto as gotas geladas da bolha caírem sobre o meu rosto.

Um dia fiz uma bolha enorme e no momento em que percebi você dentro dela, também entrei deixando o vento nos levar voando nos jardins da memória num vôo desgovernado e livre aproveitando com prazer nossos momentos felizes na bolha e no momento em que ela explodiu, eu tive uma surpresa maravilhosa, pois encontrei você no futuro.

Deus nos deu a herança do futuro com inteligência, habilidade e competência e sempre que vejo você sinto um momento de felicidade, pois sinto minha alma feliz vendo seus passos firmes e seguros.

Na velocidade que o mundo caminha para o futuro desvalorizando a vida, se alguém fizer uma bolha num futuro distante, com certeza ela estará vazia e sem passado.


Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes

quarta-feira, 21 de março de 2012

Campo Relacional - por Daisy



não posso deixar
de esquecer de lembrar
que posso mudar
e posso voar

e deve ser bom
o melhor que eu tenho
porque é o que
apenas tenho

há um espaço
onde nos encontraremos
além do certo
e do errado
pura, intensa

o campo muda
de relacional será
transformacional
e vem a cura

a vida é feita prá
amadores, e isso
dá liberdade
prá errarmos
 
Visitem Daisy

Quem Não Souber o Que Está Procurando, - por Tércio Sthal


e gastar o tempo olhando em todas as direções,
poderá encontrar qualquer coisa e os senões.
(Tércio Sthal)


Quem julga e condena os outros
levando em conta só a aparência,
um dia poderá ser o réu confesso
diante de sua própria consciência.

Não seja extremamente cruel,
nem pacato ou despercebido,
não se esconda atrás do véu,
nem apresente-se desprovido.

Confesse só o quiser confessar,
esperneie ao sofrer o castigo,
não se acomode em se martirizar,
não seja tão cruel consigo.

Muitas são as portas e janelas,
identifique quais estão abertas,
passe agora por uma delas,
a que você achar mais certa.

Se todas estiverem fechadas,
busque a chave em algum lugar,
abra agora e dê suas passadas,
vá em frente, sem pestanejar.

 

Visitem Tércio Sthal
 

Lobo em Lua Cheia - por Yuri





Eu piso agora aonde teus pés já pisaram um dia
me beijam, agora, lábios não tão parecidos com os teus
eu sinto falta dos teus.
eu sinto como uma pontada meio fria, uma nostalgia.
é como um tiro lento.
essa saudade que tanto dói. E nunca passa
minha cabeça fica meio quente, palavras alheias
a tornam mais confusa do que já é.
eu grito que não o fiz de coração. Eu juro.
Mas meus sentidos querem me matar agora.
Querem acabar com qualquer tipo de vida quente que eu tenha
e eu realmente quero ser morto por todos eles.
Em uma rua chamada “Bênção” você acabou com minha vida.
Dê dois passos para frente! Dobre à direita e depois siga em frente
e pegue em minhas mãos. Eu quero que você sinta minhas veias baterem
olhe como elas batem forte, por você. Tudo por você.
agora me abrace e sinta meu corpo quente. Quente como o fogo.
Ele queima. Mas não te toca, por isso você não sente.
Olha como meu sangue ferve e parece pular sobre minhas veias, olha
a maneira que ele evapora. Parece que isso me excita mais? Te excita mais?
Sinta as batidas do meu coração. Sim, elas são apelativas. Mas me parecem
as melhores que já senti.
Olha como eu estou morrendo aos poucos e caindo aos poucos.
Talvez você veja, mas você não possa sentir isso
porque está em mim e não em você.
Olha como eu me sinto novo e estou me acabando
sempre tentando melhorar nós dois a cada dia que passa
e eu não pareço querer acabar com isso.
Mas olha como minhas pernas estão magras e olhe o balanço delas
elas podem cair a qualquer momento.
Os ossos podem cair sobre nós. E talvez morramos soterrados, eu
e você embaixo deles.
Eu me sinto tão novo. Eu me sinto, na verdade, eu me sinto dormindo em um poço,
eu não posso ver nada. Mas me parece que está tudo bem. Isso foi a coisa mais forte
que eu já senti em toda minha vida.
Desde aquele momento em que vi seu rosto cruzando, olhando e se aproximando do meu,
alguém apertou o Play, o botão que deu início a todo esse jogo de mau gosto.
E eu queria poder matar quem fez isso, ou poder parar esse jogo
antes que minhas pernas caiam sobre mim.
Esse foi o melhor de mim. Tudo em uma noite de sono.
Eu só quero quebrar as promessas. Para que todos possam me ouvir
e alguém possa me salvar. Quero sair dessa casca que me envolve
e está tão dura. Quero quebrar o “Para Sempre” simplesmente porque ele
nunca existiu.
Em um passado perfeito aquilo foi lindo.
Mas você me tocou e isso tornou tudo mais difícil. Eu passei a tomar mais café
para ficar acordado pensando em você
em como seria se eu...
não dormisse e ficasse acordado só pra pensar em nós dois. Em como seria...
Agora me dê mais café. Eu preciso de mais de uma noite para acabar com isso tudo. Mais de dois dias.
Eu preciso que isso se torne a pior coisa. Antes do lobo ficar faminto e começar a uivar sob a lua cheia.


Eu preciso que isso se torne a melhor coisa antes que eu seja mordido pelo lobo, o comedor de paixões. De corações talvez. Eu preciso... talvez de segundos ou horas de paz.

Visitem Yuri Silva

 

terça-feira, 20 de março de 2012

Cavaleiros Andantes - por eros.ramirez

No princípio, ao me deparar com a arena, com seus saudáveis e variados embates, cercados de camaradagem e talento, fiquei em um canto mais observando, esperando um momento para entrar de fato nos duelos. Entretanto o tempo dos cavaleiros atingiu seu poente antes de minha hora chegar. Frustrado, por vezes visitei o campo de batalha vazio, ouvindo seus ecos de outrora. Até que a nobre realeza convocou novamente os cavaleiros para o espetáculo. Desta vez entrei de cara no embate. Outros remanecentes também deram as caras. Mas o clima não é o mesmo. Aparentemente os Sanchos se tornaram protagonistas. Sem fraquejar vamos tentando manter os duelos vivos, ativos. E ansiosamente esperamos o retorno de nossos Quixotes.

As Nossas Palavras I - por Ana

Já tentei participar
De Nossas Palavras antes.
Foi um horror sem igual,
Pior que o inferno de Dante.

Agora tento de novo
Pra ver se sai algo que preste.
Se não der certo, desisto,
Antes que o povo me deteste.

Vou começar do início:
Mundo existe rara apenas
Viver coisa maioria
Pessoas
. Lá vai a pena:

O mundo é maior doideira
Com tantos bilhões de pessoas
Se espremendo qual sardinhas.
Não podia sair coisa boa!...

Apenas vemos crescer
O desequilíbrio em tudo.
A maioria nem percebe,
Mas te digo: eu não me iludo!

Isto não vai prestar,
Pois existe sabedoria
Na inteligência do planeta.
Mais do que em nós. Quem diria!

Nos humanos é coisa rara
O bom senso no fazer,
Ter equilíbrio, prevenção...
Provando: não sabem viver.
.

sábado, 17 de março de 2012

Manoel Bandeira em “Epígrafe” - Citado por Ana

Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugiu como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor!
.....................Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu.

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.

- Esta pouca cinza fria...



In “A Cinza das Horas”.
.

terça-feira, 13 de março de 2012

Seu Domínio - por Ana

Sou seu domínio porque desfaleço diante dele
muito antes que me venha prostrar em aceitação.

Seu domínio eu desejo ardentemente
definitivo, único, implacável.

E eu, terra que você possui, cultiva, revolve e fertiliza,
retribuo colheitas abundantes de fascinação, entrega e deslumbramento,
alimentadas por um córrego perene, límpido e perfumado
que você torna farto a cada contato, olhar, palavra, pensamento.

Como agora.
.

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Adeus de um Soberano - por eros ramirez

O mundo perdeu no último dia 7 um dos últimos grandes soberanos que existia. Após um procedimento médico faleceu Idi Amin. Desde jovem sua liderança e humor temperamental se destacaram, cativando alguns, afastando outros. Com mão forte foi impiedoso com as tentativas de invasão de sua terra matando os tumultuadores. Manteve-se no poder devido a sua inegável truculência, mas também por atos cativavam quem o cercava. Entretanto com o passar do tempo foi ficando solitário e, com a idade pesando, aceitou receber algumas novas figuras em seu palácio. Para uns sinal já de uma saúde debilitada e da deterioração de uma mente antes implacável. Até que, após receber sedação para testes, sofreu uma parada cardiorrespiratória e não sobreviveu. Deixa uma grande lacuna que só o tempo poderá preencher.

***Para quem possa estar confuso, o gorila Idi Amin chegou ao zoológico de Belo Horizonte em 1975, vindo de uma instituição francesa, ainda criança, com 2 anos. Era o animal símbolo da instituição e faleceu na semana passada.

sábado, 10 de março de 2012

De Inação, Desejos e Sonhos - por Ana

Fernando Pessoa diz que a inação sonhadora consola de tudo aquilo que não podemos ter. Será? Será que apenas o imaginar aquilo que desejamos é capaz de nos preencher, alegrar e satisfazer? Será que isto é verdade para todas os quereres? Não creio... Há vontades que incluem o viver, o experimentar de fato, a presença real, o contato verdadeiro. Penso que a satisfação pelo sonhar está reservada àquelas situações em que a esperança da possibilidade não existe mais; isto se a frustração e/ou a objetividade não lhe tomarem o lugar.
Ele afirma, ainda, que todos queremos ser reis do mundo. Também não sei... Há os que nasceram com vontade de eminenciar pardamente (seriam reis disfarçados, diriam alguns, tá certo...), os que desejam apenas ser andarilhos anônimos, os que anseiam por uma vida ermitã e tantos outros que não chegam nem perto da megalomania do sangue azul.
Porém concordo totalmente com ele quando diz que podemos ter, em sonhos felizes, aquilo de que abdicamos. Mas, então, me pergunto: para que sonhar com o desejo abdicado?
Daí penso que eu e Fernando Pessoa fomos feitos de matérias diferentes.



Resposta a Fernando Pessoa e a Inação, de Penélope Charmosa.
.

quarta-feira, 7 de março de 2012

TODOS DORMEM


TODOS DORMEM

Cheguei de mansinho
Silenciosa, sorrateira
Todos dormem
Nenhum sinal de vigília
Pisei leve, nada disse
Cautela, toda cautela
Meu pensamento veio antes
Ele sempre vem...
Podia ouvir seus pensamentos,
questionando os meus
Nenhum alarde,
Acordei a brisa,
Com ela veio o vento
E as nuvens se moveram
Rápidas, trouxeram a tempestade
Que caiu impiedosa
E todos acordaram...

Vera Celms
Licença Creative Commons
O trabalho TODOS DORMEM de Vera Celms foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

terça-feira, 6 de março de 2012

Do Mal em Nós, fala A. Soljenítsin - Enviado por Ana

.
“Ah, se as coisas fossem assim tão simples! Se num dado lugar houvesse pessoas de alma negra, tramando maldosamente negros desígnios, e se se tratasse somente de diferenciá-las das restantes e de aniquilá-las! Mas a linha que separa o bem do mal atravessa o coração de cada pessoa. E quem destrói um pedaço do seu próprio coração?...
No decurso da vida de um coração esta linha desloca-se dentro dele, ora oprimida por uma alegria maligna, ora libertando espaço para o despontar da bondade. Uma mesma pessoa nas suas diferentes idades e em diferentes situações da vida constitui um ser completamente distinto. Ora próxima do diabo, ora próxima de um santo. Mas o nome não muda, e é a ela que tudo é atribuído.
[...]
Sim, o homem oscila, debate-se toda a vida entre o bem e o mal, escorrega, cai, levanta-se, volta a cair de novo. Todavia, enquanto não transpõe o limiar da maldade guarda sempre a possibilidade de retorno, e mantém-se nos limites das nossas esperanças. Mas quando, pela densidade dos atos de maldade, ou pelo seu grau, ou pelo poder absoluto que detém, ele transpõe subitamente o limiar, ei-lo que abandonou a humanidade. E talvez sem regresso.”


In “Arquipélago Gulag”, p. 171, 177.
.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Olhos encantados - por ZziperR



Olhos encantados

O talento do artista às vezes ultrapassa as barreiras da imaginação, tanto que os espectadores não conseguem entender se na realidade ele está fora ou dentro da história contada.

Um casal de artistas manuseando bonecos se encontrou ocasionalmente em uma grande praça, digamos que o encontro não foi tão ocasional quanto parece, já que se conheciam no imaginário acidental e nesse encontro amedrontado estavam temerosos com o pensamento das pessoas que os observavam. O encontro de dois personagens reais que sentam para almoçar e sem perceber que poderia acontecer uma história de amor dentro de outra, penduraram seus bonecos juntinhos no encosto de uma cadeira, tão pertinho como eles, olho no olho e onde se imagina não haver coração as garras e as cores do amor penetraram pelos olhos sedutores da arte.

Um almoço delicioso com uma maravilhosa macarronada e muito vinho, uma refeição tão saborosa que os limites da bebida foram ultrapassados, incrível como nem o calor da bebida sedutora conseguiu juntá-los, então se levantaram e caminharam manuseando seus bonecos. À medida que caminhavam desequilibrados os bonecos também pareciam embriagados.

Esse caminhar sinuoso levava os bonecos a se encontrarem e se tocarem a todo o momento, cada toque parecia dar choque deixando-os mais apaixonados.

Ele a abraça pertinho do ouvido e fala:

- Estou sem condições de dirigir! Vou sentar na praia e tomar coco verde para melhorar. Vamos?

- Tem certeza de que você não vai se afogar na água de coco e riu.

- Prometo pra você que antes de ir embora, ainda vou mergulhar nesse mar gostoso.

Ela respondeu sorrindo e feliz:

- Só se for amanhã!

- Você é linda, mas quando está feliz é muito mais. Sabia! Agora vamos tomar água de coco!

Caminharam com os bonecos pela praia deixando rastros, as pegadas deles na areia terminavam em um quiosque cheio de coqueiros, onde sentaram à sombra apreciando aquele mar infinito sentindo uma brisa forte que desarrumava seus cabelos. Colocaram os bonecos sentados sobre a mesa de frente para o mar e pediram coco verde gelado.

Ela apenas o observava, então ele falou:

- Olha para esses bonecos juntinhos. O que será que eles estão pensando?

- Devem estar pensando assim: Esse mar delicioso e nós não podemos aproveitar, pois mesmo com tanto amor ainda continuamos vivendo presos e imóveis nesses corpos de bonecos.

- Então vamos levá-los para o mar.Vem! Vamos!

Levantaram e caminharam pela água com os bonecos nas costas, apenas curtindo as ondas abraçando seus pés. Algum tempo de caminhada e eles chegaram a um riacho que saía do mangue desaguando no mar, então ele perguntou para ela:

- Vamos atravessar? Não é fundo!

- Eu só atravesso se você me levar nas costas. Não quero molhar minha saia!

- Eu posso tentar, mas não garanto que conseguirei levá-la até a outra margem.

- Assim não! Tem que prometer me levar até o outro lado?

- Primeiro vou atravessar sozinho para sentir a força da correnteza e ter certeza que o fundo não é muito fofo, senão vou ficar atolado no meio da correnteza com você nas costas, se isso acontecer danou. Segura a minha camisa que eu vou atravessar!

- Então atravessa logo!

A água estava gelada e logo molhou sua bermuda, mesmo assim ele atravessou tranquilo, depois voltou até ela e falou:

- Vamos fazer um teste antes. Sobe nas minhas costas!

Ela subiu, porém ficou desconfortável, pois o sufocava agarrada em seu pescoço.

- Vamos mudar de posição. Melhor você subir de frente!

Ela abraçou no pescoço dele cruzando as pernas em seu corpo, enquanto ele a segurava no colo abraçando suas pernas macias e sem hesitar penetraram na correnteza forte do riacho.

Em meio àquela correnteza forte ele fala para ela:

- Essa posição e você com essa saia me atenta!

- Eu já percebi!

Ela apertava mais as pernas para provocá-lo e nesses descuidos os bonecos escaparam da mão dela sendo levados pela correnteza do riacho. Eles apenas olharam sem fazer nada, não tinha como pegá-los novamente e eles foram embora como se estivessem se libertado dos cordões e a única coisa que conseguiam ver eram os bonecos rolando rumo ao mar, finalmente conseguiram alcançar as ondas tão desejadas. No momento em que as ondas subiam eles viam as mãos dos bonecos como se estivessem se despedindo num adeus de felicidade e liberdade.

Ele continuava a travessia enquanto ela o beijava e mordia sua orelha, até que eles conseguiram alcançar a outra margem, então ela falou:

- Não é que você conseguiu!

- Mas não foi fácil, foi um sofrimento aguentar tanta tentação. Agora vamos! Você ainda consegue avistar os bonecos?

- Não! Eles desapareceram no mar.

- Melhor esquecê-los, que eles se foram. Nessa parte da praia a areia é mais grossa e mais gostosa para caminhar, parece massagear os pés e a praia desse lado está deserta, acho que a natureza nos deu ela de presente. Vamos caminhar até aquelas rochas.

Foi uma longa caminhada até que avistaram grandes siris azulados, num contraste entre o azul e o vermelho. Ele tentou pegar um, mas não conseguiu, então falou para ela:

- Estou com uma vontade louca de urinar!

- Eu também!

- Vou urinar, mas não fica olhando!

Não adiantou falar, ele urinava e ela olhava curiosa, muito curiosa, até que ele terminou.

- Agora é você!

- Com você olhando eu não consigo!

- Faz o seguinte: Tira a calcinha que eu a seguro pra você, depois a gente agacha e faz de conta que está escrevendo na areia.

- Tá bom!

Ela tirou a calcinha e deu na mão dele, em seguida agacharam e começaram a escrever na areia.

Ele a olhou se aliviando e escreveu:

- Ela está carequinha. Não vejo pelinho nela.

Ela escreveu:

- É para refrescar! Ela sente muito calor!

- O vento da praia ajuda a refrescar. Coloque sua calcinha e vamos!

Ele se levantou e imediatamente apagou aquele fogo ardente da paixão chamando-a para caminhar de volta, já que a noite ameaçava chegar e tinham que atravessar o riacho.

No caminho ele comparava aquela imensidão de conchinhas coloridas espalhadas pela areia com a infinidade de estrelas que iluminam o céu afirmando que tal brilho seja o mesmo, apenas iluminando lugares diferentes e a prova desse brilho está no encanto dos olhos.

Corriam naquela praia deserta como se estivessem correndo em um sonho e o mar fazia questão de participar molhando seus pés e fazendo um tapete de areia fofa para que suas pegadas ficassem marcadas para sempre na história daquela parte da praia quase abandonada.

Finalmente chegaram ao riacho e ela perguntou:

- E agora?

- Sobe nas minhas costas e segura firme, tenta se apoiar mais nos ombros.

Ela subiu com as pernas cruzadas envolvendo o corpo dele, que as segurou com força, porém não deu certo, pois ela o sufocava agarrada em seu pescoço.

- A água do riacho está mais alta, assim só tem uma maneira de eu te carregar e não molhar a sua saia, seria levar você no ombro, então ela falou:

- Você me trouxe para este lado. Agora vai ter que levar de volta! Fazendo cara de emburrada.

Ele a colocou no ombro segurando em suas pernas e penetraram no riacho. No meio da correnteza ela falou rindo:

- Você está passando a mão na minha bunda!

- Não! Eu tenho que te segurar pelas coxas. Não tem outro jeito!

- Não quero nem saber! Vou passar a mão na sua bunda também. Enfiou a mão por dentro da bermuda dele dando gargalhada.

Para doidinha! Nós vamos cair! E continuou a travessia.

As águas correntes batendo nas pernas dele faziam um barulho transformador da alma e aquela calma tranquilizante e hipnotizante parecia fazê-los voar nos sentidos, entregues ao prazer da emoção interna e uma sensação de amor gostoso e inocente. Ela o apertava em seus seios naquele anseio de felicidade e prazer, estava tão bom que ela nem viu o tempo passar e chegarem à outra margem do riacho.

Quando pisaram em areia firme a noite já havia chegado e já estavam com fome novamente, então compraram pasteis de palmito quentinho em um quiosque iluminado e depois sumiram caminhando pela praia escura. Os bonecos ficaram pelo caminho deixando apenas suas pegadas cravadas na areia e na memória dos artistas. Foi um momento em que a arte criou vida e se libertou dos artistas.

Às vezes ela apaga as luzes do quarto e no escuro tenta encontrá-lo novamente, enquanto ele acende as luzes do quarto e escreve para ela satisfeito por ter tido um pouquinho do carinho e do amor dela, mesmo que tenha sido apenas por um dia.

Zp...........
Criador de vaga-lumes
Paulo Ribeiro de Alvarenga


Imagem tirada do google imagens

domingo, 4 de março de 2012

Só Por Hoje - por eros.ramirez

O despertador me acorda e ao levantar o dia não parece promissor - como ontem, e o dia anterior... No chuveiro tento extrair alguma força vital da vibração das moléculas de água para ajudar na minha entropia. Meu mantra, ou mania, mas usualmente ajuda e sigo o dia. Que às vezes é ruim, às vezes é bom, e geralmente fica na média. E quando o despertador me acorda de novo tenho uma grande sensação de dejà vu, e é porque realmente já vi e vivi. Algumas vezes também pensei em desitir. Só sempre espero que hoje seja melhor que ontem.

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz
 ...
Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi
                                           Renato Russo 
                                                          Ouça no volume máximo
.
.Legião Urbana

sábado, 3 de março de 2012

Museu de Arte Contemporânea - Antonio Cícero

.


Fica em Boa Viagem. Disco voador
ele não é, pois não pousou na pedra
mas se ergue sobre ela; nem alça voo:
à orla de cidades e florestas
suspende-se no ar feito pergunta
e o que tem dentro mergulha e se banha
no mundo em volta e o mundo em volta o inunda:
é o museu fora de si, de atalaia
à curva do abismo, à altura das musas,
sobre o mar, sobre a pedra sobre o mar,
e sobre o espelho d’água em que se apura
sobre essa pedra um mar a flutuar,
um céu na terra, quase nada, um aire,
a flor de concreto do Niemeyer.

In “A Cidade e os Livros”, p. 15.
.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Solidão - por vestivermelho




Sofremos muito com o pouco que nos falta
e gozamos pouco o muito que temos.


William Shakespeare


Reflexões de Nari - Enviado por Alba Vieira

.

"A vida é um ato de equilíbrio. Perder a consciência de onde você está a qualquer hora é arriscar cair da corda bamba da vida."


"Metade do problema de obter uma resposta é estar disposto a escutar."

.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Hermógenes - Citado por Alba Vieira

Todas as moedas têm duas faces.
Por que insistes em ver apenas aquela que te agrada?
.

Pandorga Negra - por Escrevinhadora


Uma pandorga negra caiu do céu sobre o meu quintal
e aterrisou na minha árvore de Natal
sim, minha árvore de Natal é um pinheiro
fica lá fora o ano inteiro
só a enfeito para os festejos natalinos
atrás da nave de papel vieram os meninos
queriam pular o muro e resgatá-la, um troféu
felizmente eu tenho um guardão,
uma cão fiel que mantém meu território seguro
e a pandorga ficou lá a tarde inteira
a balançar no ar, negra bandeira.
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Escrevinhadora - set/2011
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